domingo, 30 de maio de 2010

Efeito Lazarus

Aids na África me causa uma dor de desespero.
Mais de 20 milhões já morreram.

Algumas pessoas estão agindo.

Vídeo aqui.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ética e ciência


J. Craig Venter anunciou semana passada (21/05) a primeira célula sintética. O anúncio no New York Times, em inglês, está aqui.

É a realização daquilo que o pioneiro da genética já havia antecipado em seu livro Life Decoded. Partes de DNA sintéticos foram conectados na maior cadeia artificial de DNA já criada pelo homem, um anel com aproximadamente 1 milhão de peças. O anel foi injetado células hospedeiras e se multiplicou. (Clique na imagem acima para ampliá-la).

O presidente Barack Obama solicitou à comissão de bioética da Casa Branca um estudo completo dos temas envolvidos na biologia sintética para os próximos seis meses. Ele disse que o novo desenvolvimento levantou "preocupações reais".

A Biologia está diante de questões éticas, da mais alta gravidade, como a Física esteve há 70 anos. Era a época do desenvolvimento da Bomba Atômica. Einstein, um dos físicos mais pacifistas da época, escreve uma série de cartas ao então Presidente Roosevelt, alertando-o para a necessidade de desenvolver a Bomba Atômica nos EUA. Elas podem ser lidas aqui.

Na primeira carta, dia 2 de agosto de 1939, ele afirma estar convencido de que a reação em cadeia de grandes quantidades de urânio levaria a produção de uma bomba atômica "no futuro próximo", e propõe a instalação do que viria a ser o Projeto Manhattan, que desenvolveu a Bomba Atômica. A principal razão que moveu Einstein parece ter sido o acompanhamento do interesse da Alemanha Nazista pelas jazidas de Urânio da Tchecoslováquia, que foi invadida logo no primeiro ano da Guerra. Com a morte de Roosevelt em 12 de abril de 1945, parece que a linha dura do exército americano acabou não ouvindo os apelos para impedir o bombardeio de agosto de 1945 sobre Hiroshima e Nagasaki no Japão.

A situação da Biologia hoje é muito mais complexa.

Primeiramente, uma guerra bacteriológica hoje ou num futuro próximo pode causar um dano ecológico de dimensões incalculáveis. Em segundo lugar, ao contrário das pesquisas nucleares, as pesquisas biológicas estão sendo conduzidas pela iniciativa privada, sem nenhum controle da sociedade. Isto se deve ao baixo custo da infraestrutura necessária. A pulverização da biogenética torna o seu controle social muito mais vulnerável. A possibilidade de proliferação muito mais crítica.

É urgente a necessidade de definições éticas para a ciência hoje, mais do que em qualquer tempo na história.

domingo, 23 de maio de 2010

Inocente útil

A polêmica da semana foi a questão do acordo do Irã.

Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, Felipe Lampréia afirma não ter dúvida de que o objetivo Iraniano é a bomba atômica. Veja a entrevista aqui.

Os inocentes do Itamaraty ainda comemoravam a assinatura do acordo, e o porta-voz do Ministério do Exterior do Irã, Ramin Mehmanparast , afirmava em Teerã que o Irã não deixará de enriquecer urânio em seu território. Neste caso, fica a pergunta: que ingenuidade é esta da política externa do Brasil? Para que serve este acordo? A resposta parece ser: para acelerar a produção da bomba atômica pelo Irã.

Em artigo na revista alemã Der Spiegel, o jornalista Ulrike Putz chega a ver semelhanças entre o programa nuclear do Brasil e do Irã, chegando a afirmar que "acredita-se que o Brasil tenha um programa de Bomba Nuclear secreto".

É o ônus que vamos pagar por associar a imagem do País à posição belicosa do Irã. Afinal, se eles negam o Holoscausto é por que querem repeti-lo.

Tendo morado por cinco anos na alemanha, conheço um pouco a forma mal informada/intencionada com que a imprensa de lá trata o Brasil. Vejam a seguir minha carta à redação do Der Spiegel sobre a reportagem:

"Me parece uma irresponsabilidade, a forma como o jornalista Ulrike Putz da revista Der Spiegel fornece informações falsas sobre o Brasil neste texto. Somente a afirmação de que o "programa nuclear brasileiro e do Irá são quase idênticos" e "acredita-se que o Brasil possua um programa de armas nucleares secreto" é, no mínimo, indigna da tradição da revista Der Spiegel.

É verdade que o Brasil desenvolve um programa nuclear, não sem a participação da Alemanha. Mas o Brasil consolidou dois pontos relevantes sobre o tema na sua Constituição da República de 1988, após a Ditadura Militar.

Em primeiro lugar, estabelece que o programa nuclear brasileiro é um monopólio estatal, que deve ser autorizado pelo parlamento. O que significa que estabelece um grau de transparência. Em segundo lugar, estabelece que todo e qualquer uso da Energia Atômica e manuseio de combustível nuclear em território brasileiro somente pode ocorrer para fins pacíficos. Assim, este compromisso é mais forte do qualquer manifestação infantil de opinião pelo desenvolvimento de armas nucleares como a feita recentemente pelo vice-presidente da República, José Alencar.

Portanto, de onde o jornalista inferiu a semelhança entre a situação do Brasil e do Irã?

Entretanto, o que nos perguntamos aqui no Brasil é exatmente isto: o que governo Lula tem haver com o Irã para se colocar como advogado de um delírio atômico de um País belicoso como o Irã. Isto está sendo discutido de forma acalorada por aqui e nós brasileiros teremos de arcar com o ônus deste debate interno.


Texto em alemão:

"Es scheint mir sehr unverantwortlich, wie der Journalist Ulrike Putz von Der Spiegel falsche Information über Brasilien im Texte widergibt. Allein die Behauptung, "Brasiliens Atomprogramm dem iranischen ähnelt ... und wird verdächtigt, ein geheimes Waffenprogramm zu betreiben" , sei mindestens unwürdig der Tradition dieser Mediengruppe

Brasilien treibt zwar ein Atomprogramm, nicht zuletzt mit deutscher Teilnahme. Aber, Brasilien hat in der Verfassung von 1988, nach dem Militärdiktatur, zwei Punkte festgelegt, die von bedeutung sind.

Erstens, das brasilianisches Atomprogramm ein statliches Monopol ist, die durch das Parlament genehmig wird. Daß heißt, es gibt Transparenz. Zweitens, alle Verhandlung mit Atomenergie oder Atombrennstoff "auf brasilienischer Boden" ausschließlich für pazifisches Zweck sein muß.
So, das ist stärker als alle blöde Meinungsvertretung für die Atombewaffnung, wie letzlich von Vize-präsident José Alencar vertrete war.

Woher hat der Journalist die Vergleichung mit iranischen Atomprogramm festgestelt?

Was wir uns hier in Brasilien fragen ist genau das: was unser Regierung überhaupt mit Iran zu tun hat, daß es sich als Verteidiger eine kriegsbereites Land wie Iran bei ihr Atomwahnsinn bereitstellt? Aber genau das wird hier hektisch diskutiert, und damit werden wir uns klarkommen müssen."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Muralha da China 2.0


O governo chinês implementou em 2006 um sistema de censura na internet. Nesse ano a briga atingiu a empresa Google, que em março retirou seus servidores da China e colocou-os em Hong Kong. Como funciona esta nova versão da Muralha da China?

A internet na China está conectada ao mundo através de seis backbones autorizados pelo partido comunista: China Telecom, China Unicom, CSTNet, China Mobile Internet, CERNet, e CIETNet. Utilizando 12000 roteadores Cisco, acredita-se que 500 palavras chaves e um número indefinido de sites são bloqueados nos backbones.

Quando o usuário tenta acessar um site ou conteúdo “proibido”, o site fica carregando eternamente. Algumas vezes, em casos mais agressivos, aparecem dois policiais virtuais: Jingjing e Chacha (figura acima) alertando o usuário para a tentativa de acesso a conteúdo censurado.

Entretanto, na internet a recuperação de informação é fundamental. Assim, o principal objetivo dos censores é atingir as máquinas de busca, como o Google, Yahoo, Bing. O governo totalitário da China exigiu das empresas a “auto-censura”. Há duas formas de bloquear as buscas: direto no momento em que o usuário faz a busca, por exemplo, por “Massacre da Praça da Paz Celestial”, ou “Dalai Lama”, em inglês ou chinês. Os firewall dos roteadores Cisco substituem a busca por uma busca sem conteúdo, em branco. Outra forma é deixar a realização da busca e barrar os sites encontrados.

A Yahoo aceitou colaborar com o governo chinês e continua atuando por trás da Muralha, sob censura. Grupos de direitos humanos fazem pressão para que Cisco e outras empresas sejam impedidas de vender equipamentos que possam ser usados pela censura chinesa. O crescimento do uso de internet no país mais populoso do mundo em pouco tempo inviabilizará o firewall chinês, se não houver mais investimentos na infraestrutura. O acesso a qualquer informação fora da China ficaria extremamente lenta e apareceriam “buracos” na muralha.

A China tenta se isolar do mundo com a atrocidade de sempre. Até quando vai conseguir?

Por aqui a proposta do Dep. Azeredo quer implementar uma censura na internet no Brasil, gerando protestos constantes da comunidade de Software Livre.

Detalhamento dos dados da internet na China você encontra aqui.


Para entender a proposta de Azeredo comece aqui.

domingo, 16 de maio de 2010

Lula, o irresponsável

Cada vez mais eu encontro paralelos entre o governo Lula e a Ditadura Militar. Em 1979 os Militares também sonhavam com a Bomba Nuclear Brasileira e celebraram o acordo com a Alemanha para criar a desnecessária Angra dos Reis e desenvolver a tecnologia de enriquecimento no Brasil. Desnecessária e ecologicamente incorreta!

Gastou-se bilhões na insanidade dos militares!

Agora Lula e Amorim se alinham a um regime fascista, o mais perigoso regime muçulmano da atualidade, que mata dissidentes de forma mais cruel do que a Ditadura Militar. E o ex-torneiro mecânico acha isto um detalhe sem importância. O povo Curdo sendo esmagado e a bandeira do Brasil servindo para acobertar mais uma infâmia! Castro Alves repetiria seus versos:

"Auri-verde pendão de minha terra,
que a brisa do Brasil beija e balança,
antes ver-te roto na batalha,
a servires ao povo Curdo por mortalha..."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ficha Limpa Já!

Tenho vergonha de um partido, que ajudei a construir, e que não tem no projeto ficha limpa uma prioridade.

Tvz pq hoje a sua ficha não esteja limpa!

Romero Jucá diz que Ficha Limpa não é prioridade do governo.

Ficha limpa no Twitter aqui.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Caminho da Anta e Homem Velho


O professor Germano Bruno Afonso, da UFPR, atualmente consultor no Museu da Amazônia, ajudou a recuperar parte da tradição astronômica do índio brasileiro. Sua pesquisa levou a descoberta de que os índios reconheciam diversas constelações no Céu: Constelação da Ema, da Anta do Norte, do Homem Velho.

Caminho da Anta é o nome dado à Via Láctea, a nossa Galáxia.

Atualmente, a constelação indígena mais fácil de ser reconhecida é a do Homem Velho. Basta observar ao fim do dia em direção ao pôr do sol. Você poderá identificar Vênus facilmente, pois estará muito brilhante já no início do entardecer. A esquerda de Vênus você poderá notar as Três Marias, que compõem o Cinturão de Órion, na cultura ocidental. Elas são o joelho bom do Homem Velho da cultura Tupi-Guarani.

A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações ocidentais Taurus e Orion. Reza a lenda indígena que esta constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficar com o cunhado, a esposa matou o marido, cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido e o transformaram em uma constelação.

Contemplar os Céus e formular teorias de sua origem e estrutura é característica de todas as culturas!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Manuscritos do Evangelho em formato livre

Trecho do Pergaminho Codex Vaticanus B - Final de Lucas início de João - IV d.C.

Livros não são eternos, mas dados digitais têm uma estrutura de informação que pode também deixar de ser "legível" com o fim de um ciclo tecnológico.

Quem hoje ainda pode ler um disquete de 3,5"?

A biblioteca do Vaticano iniciou projeto de digitalização de seu enorme acervo de manuscritos. Do Codex Vaticanus - um dos quatro mais antigos pergaminhos do século IV em que se encontra registrado o Novo Testamento completo, à bula papal que instituiu a Ordem dos Franciscanos em 1223, uma riqueza histórica incalculável será perenizada em arquivo digital.

Como garantir que os arquivos de imagem sejam corretamente legíveis por séculos? Não seria utilizando formatos com estrutura de dados proprietários. Assim, visando a reduzir custos bem como garantir a compatibilidade futura dos arquivos digitais, o Vaticano decidiu utilizar o formato livre FITS de arquivos de imagem.

FITS ou Flexible Image Transport System é um formato de arquivo digital de imagem, desenvolvido pela NASA para arquivar imagens astronômicas, o qual prevê o armazenamento de metadados científicos da foto, como dados fotométricos, calibração espacial, origem da imagem, etc.

Uma característica importante do formato FITS é que a sua estrutura de dados, até ao nível binário, está especificada em documentos públicos. Com estes documentos, futuros pesquisadores serão capazes de decodificar os dados em qualquer arquivo de dados no formato FITS.

Ou seja, FITS é mais do que Software Livre: é formato de domínio público. Decisão acertada. Não se pode deixar documentos de interesse público em arquivos proprietários. No Brasil, escrituras públicas ainda são realizadas em arquivos .doc. Um erro que precisa ser remediado, antes que não possamos ter acesso às informações da área de nossas residências!

PS.: O aplicativo GIMP, o equivalente ao Photoshop no Linux, lê e escreve no formato FITS!

Referências:
Notícia original em italiano aqui.
Referência em alemão aqui.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Biologia e Linux


Excelente o artigo que, utilizando a teoria dos grafos, compara a ocorrência de estruturas de controle no Linux e na bactéria E. Coli. Nas estruturas biológicas, a redundância é a regra. O grafo toma a forma de uma pirâmide, com um grande número de alternativas para as funções genéricas de controle. Isto permite estruturas mais confiáveis.

Artigo completo no site da PhysOrg!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Em defesa do Construtivismo


A Epistemologia Genética – este é o nome pomposo de uma linha teórica fundada por Piaget, – estabelece um vínculo indissociável entre a validade do conhecimento e a forma de sua construção. Ela lança as bases para explicar e compreender como uma criança aprende. Se há uma contribuição fundamental desta linha para a Pedagogia foi a demonstração pelos teóricos do Construtivismo, – seu desdobramento na Pedagogia proposto por Papert – de que a aprendizagem ocorre por um processo complexo, que envolve uma evolução psicológica, psicomotora e intelectual da criança. Processo longo, em que a construção do conhecimento abstrato, matemático e simbólico, se fundamenta em etapas que têm, em especial, a etapa operacional-concreto antecedendo à etapa de pensamento formal. O pensar vai da realidade para a abstração!

Em recente artigo publicado na revista Veja, Cláudio de Moura Castro minimiza a relevância do Construtivismo:

O construtivismo é uma hipótese teórica atraente e que pode ser útil em sala de aula. Mas nos seus desdobramentos espúrios vira uma cruzada religiosa claramente nefasta ao ensino” – pretende nos ensinar o iminente consultor educacional. Ele nos apresenta quatro erros da prática pedagógica pautada pelo Construtivismo que considera comuns:

Alega como primeiro e terceiro erros, que há no Construtivismo uma pretensão de verdade e uma prática de basear seus argumentos pelo reconhecimentos de Gurus da área. Ora, toda teoria é uma proposta de explicação da realidade e não existe teoria que não tenha a pretensão de verdade, senão não seria uma Teoria. Teoria em grego é contemplação, nos ensina Gilberto Gil naquela linda canção. Um ato de sublimação e de abstração que nos permite compreender estruturas e processos a partir de um método. Não há sentido algum em uma teoria que não pretenda fornecer bases para a compreensão da verdade sobre a realidade! Neste processo, grandes teóricos são referência e são, naturalmente, ouvidos com mais atenção. Isto é legítimo. Portanto, não vejo nenhuma contribuição positiva do articulista nestes dois pontos.

Gostaria de me concentrar nos erros dois e quatro apontados pelo articulista.

Como segundo erro, Cláudio de Moura Castro questiona se “todo aprendizado requer os andaimes mentais descritos” pelo arcabouço teórico do Construtivismo. Menciona exemplos que acredita que não poderiam ser explicados pelo Construtivismo: aprendizado da ortografia, da tabuada e do significado das palavras. Uma visão reducionista, que não faz juz ao desenvolvimento da área. Questiono se houve uma leitura profunda dos artigos e livros seminais do Construtivismo. Talvez seja necessário urgentemente reler a evolução epistemológica em Piaget, o Construtivismo de Papert, pensamento e linguagem em Vigotski, a aprendizagem significativa e os subsunçores de Ausubel, os mapas conceituais em Novak, etc. Aparentemente, o Economista não compreende bem os fundamentos do Construtivismo, como tem sido estudado nos últimos oitenta anos. Uma boa leitura no papel do social na construção da linguagem, como apresentado especialmente por Vigotski, seria de muita valia para compreender o desenvolvimento da linguagem, da apreensão da ortografia como convenção social.

Como quarto e último erro, Castro aponta o fato de que o Construtivismo, como compreendido por alguns, implicaria na “não necessidade de um livro-texto”. Se o aprendiz deve construir seu conhecimento, o livro-texto não atenderia à individualidade do aluno e impediria o processo de descoberta do conhecimento.

Neste ponto, concordamos parcialmente com Castro. Evidentemente, se pretendemos uma abordagem construtivista, os livros-texto terão de ser reescritos, mas não necessariamente abolidos. Tal é o sentido de experiências levadas a cabo desde os anos 60: Escola Nova, PSSC, GREF e diversas outras experiências de busca de aplicação do Construtivismo à prática pedagógica. Não buscar roteiros e compilação de experiências construtivistas em livros-texto é acreditar num “lassay faire” pedagógico insustentável.

Entretanto, nossa crítica ao articulista é que tal desvio não é intrínseco à posição teórica do Construtivismo.

Se olharmos a prática pedagógica nas escolas brasileiras, constataremos que não é pelo excesso de teoria que a educação no Brasil está em crise. É pela sua falta...
Os professores, muitas vezes, não compreendem a evolução emocional e as motivações dos alunos, não compreendem os processos mentais, não ensinam porque não compreendem o processo de ensino-aprendizagem. Além, é claro, da falta de tempo de preparação e problemas financeiros, típicas de um País que em seu discurso apresenta a educação como principal problema a ser solucionado, mas que acredita que isto será feito com o atual salário dos professores do ensino fundamental e médio. Tal abordagem só gera a acomodação do professor e contribui para manter a mediocridade do ensino brasileiro.

Eu entenderia a contribuição de Castro se ele centrasse o artigo neste quarto ponto e não em uma crítica geral ao Construtivismo. Mas eu compreendo o seu dilema. Um economista-administrador precisa de instruções simples para gerenciar um processo. Mas como professores em uma Universidade envolvida na formação de professores, precisamos vasculhar a complexidade para construir a compreensão de processos. Assim, nossos pontos de partida são inteiramente diversos.

A ideia de que a apreensão de conceitos e habilidades é um processo que envolve o sujeito da aprendizagem é um enorme avanço para pedagogia. No vídeo abaixo apresento uma mostra do que compreendo como Construtivismo na prática.

É um vídeo elaborado pelos meus dois enteados, Bruno (6 anos) e Eustáquio (8 anos). Iniciativa espontânea e livre de ambos. Tudo começou assim: trouxe a eles um jogo de equilibrar cinco golfinhos de madeira em diversas posições. Ficaram entusiasmados com o desafio e, inicialmente, seguiram as instruções para montar as estruturas. Rapidamente começaram a inventar novas posições e, ao fim da tarde, nos trouxeram a câmera fotográfica com a filmagem que editei. Eustáquio opera a câmera, sussurra algumas orientações, mas Bruno assume a tarefa de se colocar diante da câmera e apresentar as suas descobertas.

O vídeo é rico em mostrar algumas etapas características da idade: a construção do processo de ordenamento, reconhecimento de formas e de tamanho, maior-médio-menor, desenvolvimento da habilidade espacial e de simetria, construção da habilidade motora, busca de compreensão do outro como parte do mundo, diferenciação, etc.

O que mais me dá esperança é a afirmação final: “Peixe é estranho... Eu quero saber como ele respira debaixo d'água”. Fico curioso para saber se esta atividade seria de matemática, geometria, física ou biologia. Em qual compartimento a escola tradicional enquadraria esta atividade?

A prática da escola tradicional muitas vezes destrói a curiosidade, compartimenta a realidade e exige apenas a reprodução automática de respostas prontas, conhecimento fossilizado. Fico sonhando com uma escola que não destrua a criatividade da juventude de nosso País. Neste sentido, o Construtivismo é o arcabouço teórico que contribui para o avanço da prática pedagógica, desenvolvendo nos alunos habilidades de reflexão e modelagem da realidade.

O problema é que muitos não têm esta sorte em nossas escolas, exatamente pela falta de uma prática Construtivista.

Manhãs de maio

Céu claro, friozinho de uma linda bola azul ao deixar para trás o equinócio de outono, lembrando que o solstício de inverno não demora. Tempo de pensar na vida, nos anos que passam, na minha querida mãe que se foi com um sorriso.

Eu compartilhava com ela este segredo: a alegria de termos nascido no mesmo mês de manhãs claras...

Que saudade!

domingo, 2 de maio de 2010

Father and daughter

As gerações mudam, mudam as formas e o processo cultural de amadurecimento é o mesmo. Há que se entender os diferentes momentos da vida. Cat Stevens captou a dor da juventude:

"All the time that I cried

keeping all the things I knew inside,

It's hard, but it's harder to ignore it"

Que Deus nos livre do dia em que os jovens ignorem os desafios de seu tempo. Todos já vivemos esta dor, mesmo aqueles que a arrancaram do peito com o passar dos anos. Não há outra resposta! Não vejo outra resposta que um pai poderia dar a sua filha que traga tanta clareza sobre a questão do que a que o próprio Cat Stevens coloca:

"I know it's not easy to be calm

When you have found something going on

But take your time, thing a lot

Why, think of everything you have got

For you will still be here tomorrow,

but your dreams may not."


Vários de meus sonhos não mais me acompanham. A grande maioria ainda está comigo.