terça-feira, 29 de maio de 2018

Esso, Shell; Esso Shell; e o Brasil pro beleléu...





A greve dos caminhoneiros surpreendeu a todos, mas seria mesmo de se surpreender? Uma análise possível verá dois rastros que nos permitem enxergar as origens e os focos de contradições que nos levam ao caos.

Uma linha nos leva às razões concretas.
A descabida e desastrosa política de aumento diário do preço dos combustíveis, idealizada de forma brilhante (sic) por Pedro Parente na presidência da Petrobras e com a responsabilidade política de Michel Temer, foi o ingrediente fundamental para colocar a sopa em fervura. Esta política destrutiva, não é defensável em nenhuma linha razoável de raciocínio.
Primeiro por que a auto-suficiência do País em relação ao petróleo e ao gás natural avança a passos largos. Especialistas argumentam que o petróleo brasileiro é pesado (sic) e a importação de petróleo leve é necessária. Mas por certo, não nos níveis de comprometer em 100% os custos da Petrobras. Assim, com uma inflação abaixo de 3%, como justificar o aumento de mais de 50% nos últimos doze meses, se os insumos, os salários e o operacional não dependem da variação do dolar? Ao contrário, o aumento vertiginoso dos combustíveis determinado pelo tucano Pedro Parente tem impacto dramático para a atividade dos caminhoneiros e se configura na razão objetiva da deflagração da greve. Some-se a isto o fato do governo ter recebido alertas e reinvidicações de mudança desta política desde outubro de 2017 sem tomar conhecimento. A política de preços da Petrobras beneficia aos seus acionistas e à Shell, que passou a importar gasolina em detrimento da capacidade de produção das refinarias no País. E aí, o menestrel Juca Chaves já denunciava, "Esso, Shell, e o Brasil pro beleléu..."

Outra linha, nos leva às razões subsidiárias.
O País está profundamente dividido. Um presidente com 3% de aprovação é democraticamente insustentável! Mas a crise é mais profunda, o País abusou da possibilidade de minar suas instituições e o descrédito na democracia se instaurou. A cassação do mandato presidencial de uma presidente democraticamente eleita possui razões dúbias, no mínimo. A perseguição ao candidato à presidência que possui 40% de intenção de votos, em um processo frágil, questionável, e que expõe, não somente o algoz juiz Sérgio Moro, mas todo o judiciário, como protagonistas de um profundo golpe nas instituições democráticas. "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido" passou a ser um escárnio jurídico. Por duas oportunidades o Congresso Nacional teve em suas mãos a possibilidade de salvar a democracia e reestabelecer o equilíbrio entre as forças políticas que dirigem a nação nos últimos vinte anos. Houvesse Temer sido cassado e convocadas novas eleições, haveria a possibilidade de um debate nacional, que está emperrado na medida em que forças da direita do judiciário querem a todo custo impedir a candidatura de Lula. A militância do PT alertou que a prisão de Lula levaria o País ao caos. A direita, representada pela grande imprensa, comemorou o fato de que a prisão de Lula não levou a militância do PT a instaurar o caos no País. Mas a decepção com a democracia e com a falta de representatividade, numa sociedade que não se sente representada nem na imprensa, nem no judiciário e nem no Congresso, e que corroeu a representatividade dos sindicatos; e que agora se defronta com a anarquia de movimento sem lideranças democráticas.

"A prisão de Lula mergulha o País num caos político", alertou o Washington Post em 6 de abril. Agora nós já sabemos que não existe caos político sem caos econômico!

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tá lá um corpo estendido no chão...


"Tá lá um corpo estendido no chão..." e ele representa a fugaz democracia brasileira!

Moro criou um muro de ódio que não para de se estender em todas as direções. Um muro que perpassa as famílias, um muro que divide a sociedade.

Há quem negue, mas para mim, os fatos mostram que estamos em pleno regime de exceção, e o paralelo com a implantação da Ditadura Militar de 1964 é gritante. Com uma única ressalva, no atual momento político, a ditadura militar foi implantada antes de 31 de março...

Assim como com Jango, a presidente Dilma foi deposta no golpe de 2016 e seu cargo "declarado vago", como queriam os militares, para justificar a ruptura democrática de 1964. Assim como JK, virtual presidente que seria eleito nas eleições não realizadas de 1965, Lula foi cassado e mantido em cela solitária pelo Juiz Sérgio Moro, com o único propósito de impedir que ele ganhe as eleições deste ano.

Assim como em 1964, as panelas bateram na "Marcha pela Família", a Rede Globo faz uma série de longos editoriais defendendo os golpes que se repetem, se unindo à Folha e ao Estado de São Paulo na defesa da ditadura. Uma situação que está nos levando à derrocada das instituições democráticas.

Aqueles que defendem a democracia, picham o prédio da residência da presidente do STF, Ministra Cármen Lúcia, mas os que foram inflados pelo ódio criado pela Lava Jato assassinam Mariele. Ambas são agressões, mas não há como comparar a manifestação daqueles que se tornaram sem voz pela democracia de 1988 em seu ocaso, e aqueles que assassinam os que lhes são contrários. Inclusive com o incentivo e apologia ao crime do militar-candidato que consolidou os mesmos 10% de apoio que tiveram os militares golpistas de 1964.

As eleições que se aproximam não permitem visualizar qualquer possibidade de êxito na pacificação do País.

Na análise de Faulhaber, publicada no El País (Veja AQUI), as eleições de 2018 serão protagonizadas por três atores.

Bolsonaro consolidou seus 10% de seguidores, pode captar mais alguns votos, mas ainda assim não tem nenhuma possibilidade de construir um consenso nacional, até porque seu discurso de ódio não ajuda a criar a paz.

Longe de formar uma maioria, Joaquim Barbosa, se candidato, se vencer sua inexperiência, se ...  deverá ser um novo Collor de Mello. Pode até vencer as eleições, mas terá então um choque de realidade. Ou compra a maioria parlamentar, negando o discurso que o leva à vitória, ou afunda o País na crise que leva à conclusão do processo de ruptura democrática.

A Esquerda, contra a qual se insurge a República de Curitiba e a despeito dela, avança como maior força política do País. Entretanto, se unida e acertando o "timing e o candidato", deve consolidar no máximo 40% dos eleitores. Se ganhar as eleições deste ano, seria sem formar uma maioria parlamentar.

E assim qualquer que seja o candidato eleito, não há perspectiva de normalidade institucional. Aí o 31 de março pode ser antecipado para 1 de janeiro!

Tá lá o corpo estendido no chão, e não é de nenhuma pessoa física... 

PS.:  Aliás, ontem foram 44 corpos desaparecidos nos escombros de um prédio que evidencia a carência de políticas públicas e a necessidade do "Minha Casa Minha Vida"...