quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Sinal fechado

Violência policial atira balas de borracha em manifestantes contra a PEC 55. A TV preferiu mostrar apenas o carro vandalizado da Record. Meias verdades...

"Por isto cuidado meu bem
Há perigo na esquina.
Eles venceram
E o sinal está fechado para nós
Que somos jovens..."

Voltamos aos anos setenta!
Novamente, precisamos lutar para reconstruir a democracia no País.

Me lembro bem, aquela manhã amena de agosto de 1979. Eram tempos agitados. No ano anterior, o último da era Geisel, no ABC paulista, um jovem sindicalista ainda desconhecido tinha conduzido a maior greve operária dos tempos da ditadura militar. Em BH os ônibus haviam parado a cidade por três dias no início do ano, e em maio, acampadas na Praça Sete, as professoras do Estado haviam sido massacradas pela repressão militar conduzida pelo governador Francelino Pereira.

A Universidade Pública, como tem feito desde sempre neste País, lutava pela democracia. A campanha pela Anistia - Ampla, Geral e Irrestrita estava a todo vapor. A UFMG convoca Assembleia Geral dos Estudantes para mobilização contra a Ditadura Militar e pela Anistia que seria promulgada no fim do mês. A Assembleia foi marcada para o Campus Saúde, na Av. Alfredo Balena.

Eram dez horas quando cheguei à avenida e meu coração parou.
Bloqueando toda a via, um pelotão do Exército fechava a avenida. Por um instante fiquei sem entender o bloqueio. Depois, com mais calma, percebi que os militares, jovens e altos, com roupa de combate toda escura, capacete, cacetete longo, faziam duas filas transversais à avenida, com separação de dois metros entre as filas. Assim, para chegar ao portão de entrada do Campus da Universidade era necessário atravessar toda a avenida em um "corredor polonês", entre as duas fileiras de militares sisudos, frios mas imóveis. Minhas pernas tremiam ao passar por eles. Levantei o rosto, e encarei um dos jovens militares. Ele não se mexeu. Levantei mais a cabeça e pensei: "Luto contra a ditadura militar, pois aos 20 anos de idade, não posso viver em um País sem liberdade".

Ontem ao ver as cenas de guerra em frente ao Congresso Nacional, não pude deixar de constatar: a Ditadura Militar em seus anos finais teve muito mais respeito democrático do que o Governo Temer. Trezentos colegas, professores, funcionários e estudantes saíram de Lavras para lutar contra a ditadura que se instaura no País, contra a desconstrução do Estado Social, contra o aviltamento da Constituição. Nas manifestações contra o governo Dilma, deixavam os manifestantes chegarem próximo ao Congresso. Ontem, a polícia vandalizou, empurrando os manifestantes até a Catedral de Brasilia. No tumulto que se instaura, blackblocks infiltrados enfrentam a polícia, viram o carro da Record e incendeiam outro.

O terror estava instaurado. A manifestação se dispersa...
Na Globo News, Leilane Neubarth, completamente desorientada, comentava insistentemente que manifestação era contra a corrupção, como se ela estivesse narrando as demonstrações de 2013...
Tirei foto da tela onde se via a desinformação da imprensa que deveria informar. Publiquei no Twitter com o chamado à @GloboNews sobre a mentira ou desinformação da emissora. Parece que alguém leu o twitte e logo depois consertaram e Leilane começou a reportar o que acontecia em 2016 e não o que ocorreu em 2013.

No interior das duas casas legislativas, a trama se consumava em tranquilidade.
No Congresso Nacional, os deputados sem absolutamente nenhum pudor, desfiguram o projeto de Lei contra a Corrupção, aprovam a punição aos juízes, derrubaram a responsabilização dos partidos políticos e dirigentes partidários, suprimem a tipificação do crime de enriquecimento ilícito e as regras que facilitariam o confisco de bens provenientes de corrupção. Todas medidas pró-corrupção!

No Senado, a Constituição era rasgada, aprovando-se a PEC 55 em primeiro turno.

O Governo Temer e o Parlamento seguem na perigosa e antidemocrática trajetória de dar as costas à Sociedade. "Eles venceram..." Mas, para eles, entoamos as músicas da década de 70. Como poetava Belchior:

"Não conte vitória muito cedo não
Nem leve flores para a cova do inimigo
As lágrimas dos jovens são fortes como um segredo
E fazem renascer um sonho antigo"

  





 

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