sábado, 9 de março de 2019

Previdência, o que é?

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Previdência é uma política de Estado que tem certas características de um seguro de natureza social. Ninguém "prevê" um acidente que nos deixe incapacitados para o trabalho, ninguém prevê a hora de sua morte. Portanto, ela é um pacto de bem estar para todos. Paga quem pode, usa quem necessita.

Que ela precisa de reforma, me parece inquestionável. O discurso da esquerda de que a Previdência brasileira é superavitária me parece um contrassenso. Por diversos motivos, mas principalmente pela drástica transformação da estrutura demográfica do País.

Conversei com muitos cidadãos chilenos em uma viagem ao Chile recentemente e fiquei com a  impressão que o que houve no Chile, e que está em curso no Brasil, é a destruição da previdência como uma política de seguridade social. No Chile a aposentadoria é por capitalização. Ao aposentar, o trabalhador chileno tem de especificar em "quantos anos" pretende receber a "aposentadoria". Quanto mais curto o período de usufruto, maior é o valor mensal a receber. Esta é a lógica do princípio da capitalização individual. É como se o trabalhador tivesse que prevêr a data de sua morte. O que fazer depois se a morte não chegou e a capitalização se esgotou? É uma lógica perversa de antes do Estado de Bem-Estar Social.

A reforma é necessária para aperfeiçoar o sistema. Por exemplo, as mordomias dos militares e suas filhas, que, segundo dados recentes da Previdência, são o grupo que menos paga, mais tem privilégios e, percentualmente, estabelecem o maior déficit. 

Mas a destruição do conceito de previdência é um enorme retrocesso, o retorno à barbárie da velhice desamparada.

Uma coisa curiosa que acho uma desonestidade dos defensores da reforma liberal da previdência é a alegação que a aposentadoria do servidor público  com valor próximo ao integral é um privilégio. A desonestidade inicia-se por ocultarem o fato de que desde as reformas da previdência do governo Lula e Dilma, - ah sim, você não sabia? O PT fez três reformas da previdência e implementou ajustes drásticos na previdência do setor público, cujos efeitos, pela própria natureza da questão, só serão sentidos em 30 anos - não é mais o valor integral... Acho uma puta desonestidade não analisar o que foi realizado pelo PT, como se o problema não tivesse sido encarado de forma responsável pelo governo petista.

A desonestidade continua por não se enfatizar que se o valor da aposentadoria na previdência do setor público é próxima do salário integral, o recolhimento é sobre o valor integral. 

A desonestidade é ainda maior quando se percebe que nenhum estudioso da questão, defensor ou jornalista destaca o fato de que o Estado não recolhe ao fundo da previdência a contribuição patronal para a previdência do setor público. Assim, constrói-se um déficit ao longo dos anos.

E continua ainda pelo fato de não se investigar os números em separado. Qual setor público tem qual privilégio? Por que é visível que diversos "privilégios" destacados quando se quer defender a reforma não são dos "setor público" como um todo, mas são restritos ao judiciário e aos militares.

A desonestidade se verifica ainda ao não se defender, para efeito de justiça, a aplicação das mesmas regras da previdência pública para o setor privado. Creio que um sistema adequado seria que o setor privado pagasse a previdência pelo valor integral de seu salário. Claro que isto significaria que os salários pagos pelo setor privado deveriam ser auditados, pois hoje somente o setor público tem seus salários divulgados pelo portal da transparência...  E deveriam ser tomadas providências para evitar as fraudes, como por exemplo, no setor educacional, usar uma fundação sem fins lucrativos para pagar salários de trabalhadores de uma instituição privada com fins lucrativos.

Mas o mais grave, na minha opinião, é esconder os interesses do setor financeiro em ter a imensa massa de valores capitalizados pelo trabalhador brasileiro para financiar o lucro dos bancos. No Chile, eles ficam com praticamente 100% do lucro dos investimentos na ciranda financeira. Quando há perdas por fluações da bolsa, os trabalhadores é que pagam, perdendo suas economias. Diversos chilenos com quem conversei, de direita e de esquerda, argumentam que o trabalhador não decide a aplicação. São as operadoras dos fundos. Portanto, elas deveriam bancar os prejuízos, e não o trabalhador. 

A previdência social há muito não é sustentada por um "pacto de gerações". Mas a sua existência é um avanço civilizatório de respeito à velhice que deve ser aperfeiçoado, não destruído. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A credibilidade do jornalismo em xeque



O escândalo é desconcertante!
Durante anos, mais de 60 reportagens, um premiado jornalista da mais importante revista semanal da Alemanha inventava ou falsificava reportagens.

Claas Relotiu, um jovem jornalista com quatro importantes prêmios de jornalismo, aparentemente, de forma sistemática, inventou histórias e entrevistas. O caso foi desvendado por um colega, Juan Moreno, freelancer, encarregado de um trabalho conjunto sobre os problemas da fronteira USA - México. A proposta da reportagem, no estilo jornalismo investigativo, era de que Juan Moreno, filho de emigrantes espanhóis na Alemanha, se infiltrasse num grupo de emigrantes através do México. Claas se infiltraria, do outro lado da fronteira, entre milicianos civis que atacam os emigrantes mexicanos. O espanhol constata certas inconsistências na narrativa da estrela do jornalismo alemão, denuncia, sofre com a desconfiança da revista, mas por fim consegue provar que Claas inventava partes da história, inseria diálogos inverídicos e não entrevistou quem disse que tinha entrevistado. Confrontado com os fatos, Claas admite que adulterava reportagens, é despedido e devolve os 4 prêmios de jornalismo que recebeu em sua curta e brilhante carreira. Inicialmente, a Der Spiegel consegue identificar sete casos comprovados de adulteração. 

As palavras de Claas sobre os seus motivos são arrazadoras:
"Es ging nicht um das nächste große Ding. Es war die Angst vor dem Scheitern...  mein Druck, nicht scheitern zu dürfen, wurde immer größer, je erfolgreicher ich wurde".  Traduzindo: "Não se trata da (busca) pela próxima grande tacada. Foi o medo de falhar... a pressão de não poder falhar se tornou cada vez maior, quanto mais sucesso eu alcançava" 

O escândalo abriu um debate enorme na Alemanha. Em comentário, Thomas Tuma do Handelsblätter identifica que o escândalo atinge o jornalismo como um todo. Em uma era em que as fakenews influenciam eleições, a constatação de que o jornalismo profissional está sujeito a distorções é preocupante. Nesta semana ocorreu um grande debate sobre os desdobramentos e as consequências do escândalo entre especialistas da área durante o "Mediensalon", em Berlim. As reações são diversas. O redator-chefe do Frankfurter Rundschau declarou-se decepcionado:  "Era só o que nos faltava..."
Mas é preciso analisar as diferentes realidades.

A realidade do jornalismo no Brasil é muito diferente do que acontece na Alemanha. O tipo de reportagem que Claas Relotius fazia eram reportagens investigativas no exterior. Assim, as personagens criadas, os diálogos falseados eram tipicamente de desconhecidos anônimos que nunca leriam suas palavras distorcidas no relato. Especialistas destacam que o caso Claas Relotius foi fomentado pelo fato de que a premiação de reportagens na Alemanha promoveu a necessidade de as reportagens serem cada vez mais sensacionais. Reportagens sensacionalistas sobre o exterior são raras no Brasil e não se consubstancializam no debate interno sobre o papel da imprensa, por exemplo, na destruição da figura de Lula, um tema de foro interno em que é muito mais difícil criar diálogos que não existiram.

No Brasil, o debate é centrado sobre o papel amplo da imprensa na formação de opiniões. Neste ponto, a imprensa tem sistematicamente feito ouvidos moucos às denúncias da academia. O debate sobre a imprensa na sociedade é realizado nos centros de pesquisa do ponto de vista do conceito de ideologia de classes, com viés marxista, mas tem se desenvolvido também em áreas tão distantes quanto  na linguística, na Análise do Discurso, na Epistemologia, a parte da filosofia que debate a construção do conhecimento e sua veracidade. Em todos os debates, há um consenso de que o jornalista fala a partir de seu ponto de vista ideológico, a partir de suas crenças e intenções, a partir da diferenciação de seu discurso. Assim, a escolha dos fatos que se julgam relevantes, a forma de construção do discurso, o espaço dado a cada participante do relato etc... revelam escolhas que refletem a opinião do jornalista e não, a existência de uma verdade ontológica externa a ele. Já destaquei em outro escrito como que Bachelard enfatiza que, até mesmo nas Ciências ditas Exatas, a Teoria constrói conceitos que determinam e restringem a "verdade" a ser revelada pelos "fatos" experimentais. Imaginem quão mais fluidas são as verdades sociais a serem comprovadas em um trabalho jornalístico...

O que é necessário então?
Primeiramente, é necessário que o jornalista se conscientize de seu lugar epistemológico, político e social e o explicite. Não é possível que ele ainda se apegue ao discurso de que busca a verdade de forma neutra e impoluta. O jornalista fala de um ponto de vista específico e o faz a partir de uma opção política específica. Certas regras, como o de dar o mesmo tempo a diferentes pontos de vista não são suficientes quando ele utiliza o tempo dado ao "outro", para reforçar ainda mais o seu próprio ponto de vista. Vimos isso nas últimas eleições e estamos presenciando esse mesmo tipo de distorção agora, no debate  sobre a previdência. Isso é inaceitável!  

Segundo, é necessário a criação de mecanismos claros que possibilitem a construção de um debate em que as posições contrárias à linha editorial tenham tratamento igualitário. Por exemplo, no debate sobre a Previdência, não é possível que não se dê voz àqueles que enfatizam a necessidade de um levantamento sério sobre as dívidas bilionárias dos bancos e de grandes corporações com a previdência, que exigem transparência na identificação de quais as classes de trabalhadores têm privilégios e quais exatamente já estão enquadrados desde as reformas de Lula e de Dilma. É preciso que se investiguem as consequências da proposta de reforma, por exemplo, no Chile.

Mas o que vemos neste ponto é um debate monocórdico, em que a grande imprensa, reproduzindo o desejo das grandes corporações financeiras, destaca a necessidade de reforma da previdência, e não dá espaço nem para o levantamento do contraditório, nem para o destaque de alternativas às propostas neoliberais do governo, nem para o mérito das reformas já realizadas pelos governos do PT.

O mais trágico é que nunca, como hoje, a imprensa é tão necessária à consolidação da democracia no País, e é triste ver que ela está parada em falsos paradigmas e incapaz de desempenhar seu papel histórico neste processo. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A imprensa supérflua



Desde que se afastou do modelo de imprensa baseado em fatos, para a imprensa baseada em opiniões, a imprensa tem se tornado cada vez mais desnecessária.

Interessante por que a imprensa se defende de supostos "ataques" como ataques à liberdade de pensamento, se arvorando em "arautos da liberdade", sem se dar conta que a liberdade de pensamento se estabeleceu na história ocidental a partir da liberdade de cátedra. "Eppur si muove" diz Galileu ao sair da audiência do tribunal da inquisição. Ou seja, a liberdade de pensamento tem mais haver com a defesa da dignidade da Universidade do que da liberdade de imprensa.

Entretanto, a centralidade da opinião, as quais possuem forte conteúdo ideológico, em detrimento dos fatos faz com que a imprensa se aproxime mais da inquisição religiosa do que do livre pensar. E o movimento da sociedade parece ser o de que, se é para ter opiniões exdrúxulas, inteiramente desconectadas dos fatos como as que temos visto na imprensa brasileira, em especial nas redes de televisão, então melhor ficar com a fakenews de estimação de cada um. Por isto o tempo de televisão não teve nenhuma influência no resultado das eleições. A imprensa se tornou supérflua.

Vamos a um exemplo concreto.
Os comentaristas da GloboNews estão cada vez mais desinformados. Assistindo ao jornal das de ontem, 31 de outubro, me deparo com mais duas pérolas da desinformação que tem sido a tônica da imprensa brasileira.

Ao comentar a indicação de Marcos Pontes para o Ministério da C&T a Cristiane Lobo afirmou:  "O candidato cumpre sua promessa de indicar nomes da sociedade com afinidade com a área". Fiquei pensando, Ciência e Tecnologia e Ensino superior... que afinidades um militar de carreira, piloto de caças, astronauta, tem com estas áreas? Nenhuma! Não possui doutorado, não ensina, não orienta teses e dissertações, não publica, não tem Currículo Lattes, não desenvolve tecnologias ou produtos e inovação, é apenas um excelente piloto de caças por 25 anos e trabalha no Programa Espacial pela sua especialidade como piloto. Portanto, é um estranho no ninho da C&T. Minha irritação maior é devido ao fato de se perceber o nível de senso comum demonstrado pelos jornalistas. Transfere-se para o astronauta-ministro uma característica que é da NASA como agência de fomento da tecnologia ligada à atividade aeroespacial e à Astronomia. O pior, sua escolha para o ministério tem menos haver com o fato de ser um cientista, que ele não é, quanto o de ser um militar alinhado com a cosmovisão do presidente eleito. Este fato nem sequer é mencionado!

Mas, pouco depois, Gerson Camaroti arredonda o non sense com a desinformação. Afirma que acha positivo que se tenha uma indicação "da área" pois, segundo ele, em verificação com Cristiana Lobo, nos governos Dilma e Lula teria houvido apenas um caso de indicação de cientista pela presidente Dilma.

Fiquei boquiaberto diante da fala de Camaroti. As lembranças me levaram ao ano de 1987... Fui o autor principal de um artigo que meu orientador apresentou na International Conference on Magnetism em Paris neste ano. Centrado fortemente no desenvolvimento de minha tese de doutorado, não fui à conferência. Meu orientador, ao retornar, me conta que num jantar com alguns cientistas participantes do evento, surgiu a discussão sobre a ciência no Brasil, País emergente, recém saído de longos 21 anos da ditadura militar. Alguém pergunta quem seria o maior cientista brasileiro da área de Magnetismo. Meu orientador me contou que houve rapidamente um consenso: Sérgio Machado Resende, da Universidade Federal de Pernambuco.

Sérgio Machado Resende, Ministro da Ciência e Tecnologia de 2005 a 2010, um dos mais longevos da pasta. Cientista de renome internacional, mais de 250 artigos científicos publicados, incluindo Physical Review Letter e Nature as maiores revistas acadêmicas da área, foi inteiramente esquecido por @cristilobe e @gcamaroti.

E eu me pergunto, para que serve uma imprensa que é pródiga em emitir opiniões, desinforma e não me surpreende com fatos?

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Criador e criatura




É dito popular que mente vazia é oficina do diabo. Temos visto nos últimos tempos que mente vazia também cria diabos...

A sociedade brasileira se deparou nos últimos dias com uma situação inimaginável até há seis meses atrás. Um político medíocre, que só entrou na política por causa de sua insubordinação como militar ao ameaçar "explodir bombas" no Rio caso não houvesse reajuste dos soldos, ameaça explodir a democracia no País.

Em tudo que defende, Bolsonaro é o protótipo do fascista. Intolerante, boca rota, defende a tortura e os torturadores, nega o carácter anti-democrártico do golpe militar de 1964, mente sobre a situação calamitosa de hiperinflação em 1985 que os militares criaram no País após 21 anos de ditadura. Porte de armas, fuzilamento de adversários... As ideias são tão absurdas que cabe a reflexão: "O que produziu o Bolsonaro?'.

A resposta é simples, embora muitos talvez não estejam preparados para encarar a realidade: Foi Sérgio Moro e a Lava Jato.

Antes que você queira começar o seu exercício de negação, me permita uma observação fundamental: "Se nem a justiça se curva à necessidade de provas, por quê o cidadão anti-lula precisa de ser racional e fático?"

O mensalão não condenou Lula por que se manteve rígido ao princípio basilar do Estado de Direito que é a necessidade de provas para uma condenação. Sérgio Moro e seus asseclas inauguraram a era que dispensa provas e se contenta com indícios circunstanciais como suficientes para a condenação. Assim, está inaugurado no País a era do linchamento público como norma. Na esteira, o impeachment de Dilma é somente uma etapa do processo que pretendia acabar com o maior e único partido político brasileiro, o Partido dos Trabalhadores.

O Ministério Público e o aparato justicial fazem um desserviço à Democracia ao atropelarem prazos para impedir que o povo expresse sua vontade de que Lula seja presidente. O alardeamento de denúncias requentadas pelo MP de São Paulo contra Haddad, assim que foi declarado o substituto de Lula na chapa do PT, é parte de uma estratégia de linchamento público de fazer corar Maquiavel.

Leio as denúncias, assim como leio as sentenças de Moro. Elas têm em comum o hilário.

Wilson Coelho, Marcelo Mendroni e Ricardo Manuel Castro estão sendo investigados pela Corregedoria por denúncias de "atos em atropelo processual, apenas com o objetivo de ganhar os holofotes durante o período eleitoral". Mas a leitura da denúncia é ainda mais reveladora. Não há uma única linha que possa ser ligada a Haddad, a não ser a conclusão subjetiva dos procuradores "Temos certeza de que Haddad está envolvido". Assim, a Procuradoria rasga qualquer resquício do Estado de Direito e infringe uma derrota à Sociedade. Não estão alí para "achar".

A leitura da decisão de Moro é estapafúrdia. A ausência de declaração de bens no Imposto de Renda é apresentada como prova. Talvez aí esteja a justiça (sic) em Curitiba assistindo demais filmes de Al Capone. O processo contra o bandido de Chicago no século passado viu no Imposto de Renda provas de enriquecimento ilícito. No caso de Lula, é apenas caso para declaração corretiva. Mas para o juiz, que se confunde com a acusação, é prova. E este é o ponto. No momento em que o esforço necessário de combate à corrupção se fez de forma partidária, ele perdeu a sua legitimidade.

Para mim é simples. Sérgio Moro deixa em branco os fundamentos da pressunção de inocência. Não demonstra a existência de Ato de Ofício, portanto, não pode haver acusação de corrupção. Não demonstra a propriedade do apartamento. Ao contrário, rejeita a prova apresentada pelos advogados de defesa de que o apartamento em questão foi colocado como garantia de empréstimos. A setença nem ao menos demonstra a posse.

O fato de o TRF4 ter se manifestado de forma "atropelada" é ainda mais grave: denuncia o objetivo de aparelhamento do judiciário paraobtenção de objetivos políticos, demonstra linchamento e não julgamento. E isto, quando envolve as instâncias de recurso, é ainda mais grave. Demonstra que o judiciário brasileiro se corrompeu.

Neste ambiente em que nada precisa ser mais demonstrado, surge Bolsonaro. Todas as fake news que fazem parte da estratégia do militar têm um campo fértil numa sociedade que abandonou a verdade como valor. 

Nunca foi intensão de Sérgio Moro e seus asseclas do MPF em Curitiba promover a ultra-direita. Entretanto, o anti-Petismo promovido pela turma do Powerpoint chegou a uma sociedade sem memória histórica e que nunca condenou explicitamente os crimes e os criminosos do Regime Militar. Assim, o fenômeno que se viu foi a loucura coletiva que vê em tudo -não precisa de provas- as mãos do PT. A rede Globo é PT e o PSDB é PT. Ursal, Foro... O Papa e a ONU são comunistas, etc...

PSDB nunca foi um partido. Se consolidou como pólo anti-PT. Entretanto, neste contexto das eleições, o anti-Petismo, promovido por Moro, não tinha mais o PSDB como opção. Estas eleições podem acabar com o PSDB como partido, pois a opção anti-Petista se deslocou para a extrema-direita, representada atualmente pelo defensor das armas.

Neste ponto, criador e criatura se encontram! A boa notícia é que a sociedade brasileira acordou para o perigo do aprofundamento do retrocesso democrático. A eleição de Haddad é a esperança de interromper o processo, iniciado pela Lava-Jato, que nos leva para longe do Estado de Direito.

PS. 01/11/18: Deve ser nomeado ministro. O crime realmente compensa... O eleito começa a pagar a inestimável dívida para com o juiz. 

sábado, 11 de agosto de 2018

Einstein e Chaplin




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Einstein: What I most admire about your art, is your universality. You don’t say a word, yet the world understands you!
Chaplin: True. But your glory is even greater! The whole world admires you, even though they don’t understand a word of what you say.
 As coisas não aconteceram bem assim, mas a história tem um pouco de verdade...

Plesch, médico e amigo de Einstein conta assim o encontro de Einstein e Chaplin em Hollywood em 1931 para o lançamento do "Luzes da Cidade" de Chaplin:

Once when Einstein was in Hollywood on a visit Chaplin drove him through the town. As the people on the sidewalks recognized two of their greatest, if very different, contemporaries, they gave them a tremendous reception which greatly astonished Einstein. “They’re cheering us both,” said Chaplin: “you because nobody understands you, and me because everybody understands me.” There was a good-humoured pride in his remark, and at the same time a certain humility as at a recognition of the difference between ready popularity and lasting greatness.

O certo é que são dois gênios do século XX.


Compilado de Quote Investigator. Ver LINK AQUI





sábado, 4 de agosto de 2018

Yo lloro por tí, Argentina!


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Os números da destruição são todos impressionantes.
A inflação está acima de 30% ao ano e não há perspectiva de melhora.  As projeções são de uma inflação em 31,8% e um recessão de -0,3% do PBI em 2018.
O que se nota é que a inflação está sendo fomentada pela política neoliberal de aumento de tarifas. O governo do presidente Macri, ex garoto propaganda do MBL sobre as propostas da liberalização da economia na América Latina, acaba de anunciar um aumento das tarifas de energia em 24%.

Os números da economia são arrasadores.
Pelo segundo mês consecutivo a atividade econômica na indústria tem retrocesso. -8,1% é o índice de crescimento negativo da indústria. Uma das mais afetadas é a indústria automobilística que recuou quase de 12%. Exatos -11,8%. Neste cenário, basta checar os números: dos 10 automóveis mais vendidos atualmente na Argentina, 8 são produzidos no Brasil! Só perde para a derrocada da indústria do petróleo, que caiu 19,9%. Até mesmo a indústria de construção civil, até há pouco o motor da economia Argentina da era Macri, iniciou sua queda, com número próximo a zero.

Este é o resultado na Argentina da insistência no modelo econômico defendido por Henrique Meirelles e pelo PSDB de Alckmin para o Brasil.

Corremos o risco de ir pela mesma ladeira abaixo no Brasil. Parece que a grande lição que Lula deu ao Fernando Henrique Cardoso não foi aprendida. Como disse Manuela D'Ávila em sua participação no Roda Viva, o que estes defensores do Neoliberalismonão consequem perceber é que a opção por atacar o enorme déficit social do País é o único caminho para o crescimento econômico, que é necessário para equilibrar as contas. Quando o seu salário está curto, há duas formas de resolver. Cortando gastos ou aumentando salário.  O PSDB  de Alckmin, ao ser entrevistado pela Rede Globo esta semana parece que ainda quer repetir a velha fórmula que fez com que o Brasil ficasse estagnado no segundo mandato da era FHC. Algumas das idéias são simplesmente hilariantes.

Veja por exemplo a "solução" de instituir a cobrança da pós-graduação, dentro da ideia de cobrar os ensino de graduação, "dos mais ricos". A primeira pergunta que é preciso fazer é, o que é "mais rico". Sim, por quê o que se teme é que mais uma vez a classe média, que vive de seu salário honesto, seja novamente a maior prejudicada.  Respondida esta pergunta, não tenho dúvida que uma das duas coisas aconteceram.

Ou o nível de "mais ricos" é baixo e a classe média assalariada vai pagar a loucura do PSDB de Alckmin, ou se verificará o que já temos dados objetivos na Universidade Pública Brasileira: que com a introdução das quotas, a Universidade Pública hoje é agente de ascensão social e está gerando mobilidade social. Ou seja, que a Universidade Pública não é mais somente para os ricos. Em ambos os casos, vamos verificar que a medida é inteiramente inóquoa para os cofres públicos.

Yo lloro por tí, Argentina. Mas choro copiosamente pela desgraça brasileira!!! 
 

terça-feira, 29 de maio de 2018

Esso, Shell; Esso Shell; e o Brasil pro beleléu...





A greve dos caminhoneiros surpreendeu a todos, mas seria mesmo de se surpreender? Uma análise possível verá dois rastros que nos permitem enxergar as origens e os focos de contradições que nos levam ao caos.

Uma linha nos leva às razões concretas.
A descabida e desastrosa política de aumento diário do preço dos combustíveis, idealizada de forma brilhante (sic) por Pedro Parente na presidência da Petrobras e com a responsabilidade política de Michel Temer, foi o ingrediente fundamental para colocar a sopa em fervura. Esta política destrutiva, não é defensável em nenhuma linha razoável de raciocínio.
Primeiro por que a auto-suficiência do País em relação ao petróleo e ao gás natural avança a passos largos. Especialistas argumentam que o petróleo brasileiro é pesado (sic) e a importação de petróleo leve é necessária. Mas por certo, não nos níveis de comprometer em 100% os custos da Petrobras. Assim, com uma inflação abaixo de 3%, como justificar o aumento de mais de 50% nos últimos doze meses, se os insumos, os salários e o operacional não dependem da variação do dolar? Ao contrário, o aumento vertiginoso dos combustíveis determinado pelo tucano Pedro Parente tem impacto dramático para a atividade dos caminhoneiros e se configura na razão objetiva da deflagração da greve. Some-se a isto o fato do governo ter recebido alertas e reinvidicações de mudança desta política desde outubro de 2017 sem tomar conhecimento. A política de preços da Petrobras beneficia aos seus acionistas e à Shell, que passou a importar gasolina em detrimento da capacidade de produção das refinarias no País. E aí, o menestrel Juca Chaves já denunciava, "Esso, Shell, e o Brasil pro beleléu..."

Outra linha, nos leva às razões subsidiárias.
O País está profundamente dividido. Um presidente com 3% de aprovação é democraticamente insustentável! Mas a crise é mais profunda, o País abusou da possibilidade de minar suas instituições e o descrédito na democracia se instaurou. A cassação do mandato presidencial de uma presidente democraticamente eleita possui razões dúbias, no mínimo. A perseguição ao candidato à presidência que possui 40% de intenção de votos, em um processo frágil, questionável, e que expõe, não somente o algoz juiz Sérgio Moro, mas todo o judiciário, como protagonistas de um profundo golpe nas instituições democráticas. "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido" passou a ser um escárnio jurídico. Por duas oportunidades o Congresso Nacional teve em suas mãos a possibilidade de salvar a democracia e reestabelecer o equilíbrio entre as forças políticas que dirigem a nação nos últimos vinte anos. Houvesse Temer sido cassado e convocadas novas eleições, haveria a possibilidade de um debate nacional, que está emperrado na medida em que forças da direita do judiciário querem a todo custo impedir a candidatura de Lula. A militância do PT alertou que a prisão de Lula levaria o País ao caos. A direita, representada pela grande imprensa, comemorou o fato de que a prisão de Lula não levou a militância do PT a instaurar o caos no País. Mas a decepção com a democracia e com a falta de representatividade, numa sociedade que não se sente representada nem na imprensa, nem no judiciário e nem no Congresso, e que corroeu a representatividade dos sindicatos; e que agora se defronta com a anarquia de movimento sem lideranças democráticas.

"A prisão de Lula mergulha o País num caos político", alertou o Washington Post em 6 de abril. Agora nós já sabemos que não existe caos político sem caos econômico!