segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O sertão que aprende a ler...


Fonte:  http://www.portalideb.com.br/

Cláudio Moura Castro disse certa vez, de forma infeliz, que o "Construtivismo é uma hipótese teórica atraente e que pode ser útil em sala de aula. Mas nos seus desdobramentos espúrios vira uma cruzada religiosa claramente nefasta ao ensino"  Já realizei uma crítica ao eminente consultor educacional em outro post neste blog (veja aqui).

Me lembrei dele aqui em Fortaleza ao analizar o gráfico do Ideb de Sobral, sertão do Ceará. O salto impressionante que alçou Sobral a um patamar de Ideb (7,33) muito superior ao índice nacional (ideb 4,7) ou aos índices encontrados na região sudeste, tem boa parte de sua explicação no PAIC - Programa de Alfabetização na Idade Certa.

Iniciativa pioneira originada nos trabalhos do Comitê Cearense para a Eliminação do Analfabetismo Escolar, criado em 2004, o PAIC é fundamentalmente baseado nos teóricos do construtivismo e da psicologia genética que afirmam existir uma "idade certa". Para arrepio de Moura Castro, se olharmos o fluxo escolar, veremos que Sobral tem índice de fluxo 1,00 - 100 % dos alunos aprovados. A iniciativa de não reprovação é parte do esforço que se alinha ao esforço que acontece no mundo inteiro de não deixar nenhuma criança para trás: No Child left behind nos EUA, Every Child Matters Agenda na Inglaterra, são iniciativas para promover equidade educacional e direcionar recursos adicionais para a educação de grupos vulneráveis. O mesmo fenômeno, com muito menor intensidade, se verifica na maioria das cidade mineiras por causa do pioneirismo do programa Ensino Fundamental de  9 Anos, com alfabetização a partir dos 6 anos de idade do governo de Minas. Foi o que se observou em minha cidade natal, Caratinga, no leste de Minas.

Fonte:  http://www.portalideb.com.br/


O fenômeno do Sertão que aprende a ler se espalha pelo nordeste, fazendo com que escolas de Pernambuco estejam entre os melhores índice Ideb do país. Este fato não é reproduzido nem pelas Capitais dos estados, nem por importantes cidades do sudeste. Campinas, cidade sede da melhor Universidade do País, tem uma foto horrorosa no Ideb.

Fonte:  http://www.portalideb.com.br/


Existem mudanças em andamento na educação brasileira. Estamos felizes com o Sertão do Ceará que aprende a ler... mas não podemos permitir que Campinas, da Unicamp, se torne uma cidade de analfabetos!


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Flores e árvores de Águas Claras

No sítio Águas Claras tenho tido o cuidado de não roçar o terreno e a todo momento me surpreendo com novas florações desconhecidas. 


Era um galho seco, nunca me chamou a atenção. De repente, Jacarandá Caroba, uma floração maravilhosa e suas propriedades medicinais.

A beira da estrada, um lilás escuro discreto. A linda Sucupira preta!

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Uma árvore comum no meio do verde que sobrou do incêndio há dois anos. Só notei quando, sem nenhuma folha, deu uma floração com fibras brancas. Mês depois, um fruto em bulbo. Um Imbiruçu, mbira açu dos índios. Embira grande! Os índios chamavam de embira tudo do que podiam extrair fibra para artesanato.


Uma velha árvore abandonada, a Copaíba entregue à contemplação do Lago de Camargos. Me faz lembrar o texto bíblico: "E disse às águas: até aqui virás e daqui não passarás!"  Os brancos lhe chamam com o pegagoso nome de Pau d'óleo. Fico com kopaýua do tupi!


Por todo o lado, às margens do córrego intermitente que corta o sítio, a Embaúba brota feliz!


Saco de Carneiro e sua semente de dispersão eólica!

Angico amarelo do reflorestamento cresce em velocidades de eucalipto!
  Abaixo, as que esperam reconhecimento!














 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

GERES: destruindo dogmas sobre a educação

Evolução da proficiência em leitura - Fonte:  Geres 2005

Estudo longitudinal não é fotografia. É o registro cinematográfico da dinâmica do processo de ensino-aprendizagem! O Geres (www.geres.ufmg.br) é, até o momento, o mais amplo estudo longitudinal de avaliação educacional já realizado no Brasil. Sete anos de pesquisa, cinco cidades, quatro classes de escolas (privadas, municipais, estaduais e centros de aplicação associados a universidades federais), 300 escolas e, inicialmente, 21.529 alunos fizeram parte da pesquisa. Foram realizadas cinco "ondas" de avaliação entre 2005 e 2010. O projeto gerou diversas teses e dissertações neste período e acaba de ser publicado um resumo dos principais resultados.

Alguns achados são simplesmente impressionantes e destroem mitos e dogmas de nossa percepção sobre a realidade educacional brasileira.

A escola pública é ruim. A escola privada é boa. Certo? Não necessariamente!

A pesquisa mostra que a evolução do aprendizado nas escolas públicas e privadas é paralela. As velocidades da evolução do aprendizado são comparáveis. Os valores agregados pelo processo educacional são equivalentes em ambas as escolas. O grande problema reside no ponto de partida: os alunos da rede pública iniciam na escola com enorme defasagem em relação aos alunos da rede privada. Condição sócio-econômica, estrutura familiar, ausência de estímulo para leitura na primeira infância são algumas das explicações possíveis.

Os dados para a proficiência em leitura mostram que a escola pública faz o seu trabalho de correr atrás do prejuízo, mas não consegue diminuir significativamente a diferença. Assim, os alunos da rede pública chegam ao fim do primeiro ciclo educacional com defasagem de 1,8 anos/escola em relação aos alunos da rede privada.

A situação é mais complexa na proficiência em matemática. A pesquisa detectou uma desaceleração do aprendizado no segundo ano que compromete a formação dos alunos da rede pública com baixos níveis sócio-econômicos (NSE). Assim, na escala proposta, a diferença dobra nos três primeiros anos!

Evolução da proficiência em matemática - Fonte: Geres 2005

Os dados analisados pelo projetos Geres comprovam uma forte correlação entre o NSE e o rendimento escolar. Este dado, embora não seja surpresa, tem profundas consequências para as políticas de responsabilização e que não estão sendo observadas atualmente. Em especial, demonstram a inadequação do IDEB como índice para caracterizar a qualidade da escola, pois o índice é contaminado por fatores externos à escola. Uma medida educacional  necessária é a que estabeleceria uma mensuração do valor agregado pela escola, o efeito escola.  Entretanto, não existem indicadores e pesquisa educacional nesta área no Brasil. 

O Geres indica os caminhos para uma avaliação adequada da realidade escolar brasileira e, certamente, estará influenciando futuros estudos na área.