sábado, 24 de dezembro de 2011

Honestidade intelectual

O que se divulga: Vênus e Terra são fotos, os planetas são criação artística em Blender 3D. Por que estão juntos na mesma imagem?
O que se vê: uma flutuação estatística  da intensidade de luz da estrela.

Meu sobrinho ficou irritado: "Mas tio, a Física não explica tudo". Eu fui inclemente com ele: "Mas até agora você está utilizando os argumentos da Física para fundamentar a sua fé de que existe vida em outros planetas".

Naquele momento, não sabia quão atual era o nosso papo no café da tarde em minha casa em Lavras.

Inferência indireta e incoerente sobre a massa do planeta permite "prever" que o planeta é rochoso. Não há dados experimentais.

Naquele mesmo dia a revista Nature publicou um artigo e posteriormente jornais do mundo inteiro comentaram. O Projeto Keppler da NASA acaba de descobrir mais dois novos planetas que se alega possuem o tamanho aproximado da Terra.

Logo, como tem se tornado comum nestes anúncios da Nasa, imagens criadas em computador são divulgadas dando um sentimento falso de realidade a medidas que são técnicas, extremamente incompletas e inconsistentes com a sua repercussão.

O site de O Globo arremata:

" RIO - Cientistas descobriram dois planetas do tamanho da Terra orbitando uma estrela fora do sistema solar, um sinal encorajador de que pode haver vida em outros lugares."

A conclusão é tão ilógica e absurda que me fez refletir sobre estes mitos que proliferam numa sociedade que se entende racional.

Encontrar planetas rochosos do tamanho da terra é tão óbvio que beira à insanidade pensar em fazer de uma descoberta destas uma notícia de jornal. Nunca entendi tamanho frenesi. "Sinal encorajador de ...Vida", entretanto, é algo de outra ordem.

Não consigo entender que a Teoria de Darwin tenha qualquer coisa de brilhante! Do ponto de vista epistemológico é uma teoria fenomenológica de um fato só. Nos diz apenas que, uma vez que um indivíduo tenha uma característica favorável, terá mais chance de sobreviver. Aqui quase cabe um "dâmmm". Em termos da dinâmica da população, podemos fazer modelos computacionais e verificar que a herança pode se tornar majoritária. Mas ela nada diz sobre os mecanismos de mudança. Somente mais de cem anos depois, com a Genética, iniciamos a abertura de uma cortina que hoje nos permite compreender vagamente a transmissão de características de um indivíduo a outro. Mas...

O decifrar do código genético dos seres humanos há 10 anos se tornou um completo fiasco em termos daquilo que nos foi prometido. Nenhuma doença de origem genética foi compreendida com a proeza técnica de decifrar o código genético. Craig Venter, em entrevista recente à Veja: "Descobrimos que as doenças podem estar relacionadas a centenas de genes ao mesmo tempo. Alguns estão presentes mas não ativos. Não avançamos nada em relação à compreensão (das doenças de origem genética)."  e o mesmo Craig: "Há 10 anos tínhamos uma compreensão equivocada e ingênua do genoma". Nada sabemos das doenças, nada aprendemos sobre a vida.

Os biólogos e os físico-biólogos (dentre eles, em especial, o brasileiro Marcelo Gleiser) precisam urgentemente de uma dose de honestidade intelectual: estamos infinitamente longe de entender a vida, sua origem e seus mecanismos. Se não compreendermos seus mecanismos, qualquer afirmação sobre as condições de sua existência fora da terra são tão expeculativas que devem ser enquadradas como "desonestidade intelectual".

Por que digo tudo isto? Porque acho tão nocivo ao desenvolvimento intelectual e cultural de um jovem ser obrigado a ouvir as baboseiras de que a terra tem 10 mil anos e não houve tempo para evolução, quanto a especulação desenfreiada que tem formado gerações que olham para a imagem no topo deste artigo e pensam que "fotografaram" planetas onde pode haver vida.

By the way:  os planetas em questão estão a quase mil anos luz da terra (300.000 km a cada segundo, dos 86.400 segundos que tem um dia, dos 31,5 milhões de segundos que tem um ano...). Possibilidade de seres vivos de lá chegarem aqui: zero. Estão tão perto da estrela que o ano dura menos de uma semana, apenas seis dias, e a incidência de raios solares eleva a temperatura da sua superfície à mais de 800 graus. Esta afirmação é teórica, foi calculada, não é dado experimental. De toda forma, chance para a vida:  zero.

Um comentário:

Denise Vasconcelos disse...

Adorei o dâmmm pra a fé na Teoria de Darwin!