segunda-feira, 16 de abril de 2018

Justiça seletiva não é justiça


Com a decisão da ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de enviar para a esfera eleitoral uma investigação contra o ex-governador paulista, que tramitava até agora na esfera criminal, faz crescer  a sensação de uma justiça seletiva.

Os casos do PSDB são escandalosos e não há como justificar o desequilíbrio no tratamento dado entre os casos do PT e do PSDB. A gravação mostra que o senador Aécio Neves pediu dinheiro a um empresário que confessou comprar parlamentares. O senador propõe que o dinheiro seja movimentado por alguém “que a gente mata antes de fazer delação". O ex-governador Geraldo Alckmin recebeu em espécie, e não declarou, R$ 10 milhões da Odebrecht, mas responderá apenas na Justiça Eleitoral. É tanto dinheiro que é necessário uma verdadeira operação criminosa para acumular e transportar o dinheiro.

Os líderes e ex-candidatos à presidência da república pelo PSDB têm as mãos sujas e a diferença com que são tratados os casos do PT e do PSDB reforça sim o sentimento de "justiça seletiva", cujo outro nome é "judiciário corrupto".

Creio que a condenação e eventual prisão dos caciques do PSDB, bem como do PMDB, não restabelecerão o desequilíbrio instaurado pela açodamento da Lava Jato e do Juiz Sérgio Moro contra o Presidente Lula. Tenho neste ponto uma posição semelhante à apontada pelo sociólogo Celso Rocha de Barros em entrevista na GloboNews (veja AQUI) à jornalista Renata Lo Prete.

Para o sociólogo, o desequilíbrio já está estabelecido, pois esta onda pseudo-moralizante do País afetou muito mais a esquerda do que a direita, que tem se safado impune até agora.

Para ele, o "que teria garantido que a lei é para todos é se o Temer tivesse caído com a prisão do Joesley, um negócio que teve um preço político para a direita brasileira imenso, se o Eduardo Cunha tivesse caído no processo do impeachment, quando já tinham evidências amplas contra ele, isso teria um peso gigante contra a direita brasileira. E aí a gente poderia comparar com a esquerda, que perdeu um mandato presidencial com a Dilma e um candidato favorito este ano". Além disto, o "Aécio conseguiu que livrassem ele lá, o PT não conseguiu. O Temer com o Gilmar. Quando veio o julgamento do Lula, o chefe das Forças Armadas veio a público ameaçar com um golpe de estado e ele não havia feito nada disso quando se levaram duas denúncias contra o Temer no Congresso".

Assim, conclui o sociólogo, "só vou me convencer que a lei é para todos, que aliás é o nome do filme lá da Lava Jato, quando eu ver o outro campo, o pessoal da centro-direita, tendo custos políticos semelhantes ao que a esquerda pagou. Por exemplo: se prenderem o Temer ano que vem. Quem é Michel temer ano que vem? Ninguém nem vai lembrar do nome dele. Se pegarem o Aécio ano que vem. Que importância tem o Aécio Neves a esta altura do campeonato?"

A prisão dos caciques do PSDB restabelece o equilíbrio? Creio que não. A prisão ilegal** de Lula tem um custo político imenso para a esquerda. O candidato que, mesmo após a prisão, lidera a intenção de votos deverá ser impedido de disputar a eleição. É o segundo golpe de impeachment.

Neste fim de semana, o DataFolha divulgou sua pesquisa de intenção de votos para as eleições de outubro. É de certa forma hilário perceber o desespero da grande imprensa com o fato de que Lula é disparado o candidato preferido. O Globo destaca "Lula cai e Marina encosta em Bolsonaro". Os números, 31%, 10% e 15%, atribuídos a estes candidatos, respectivamente, não permitem esta análise. Como destaca Boechat no comentário de hoje, Lula não despencou. Se considerarmos a imensa propaganda e a tremenda exposição do que significa o maior político da atualidade no Brasil sendo preso, os 31% de intenção de voto é uma declaração popular de descrédito do judiciário e da Lava Jato. De fato, mais de 40% da população acredita que a prisão de Lula é injusta**. Assim, mesmo pessoas que não vão votar em Lula, acreditam que há injustiça contra ele.

O segundo golpe está em andamento e a população percebe isto. Como ouvi de uma trabalhadora negra, que educa seus filhos com dignidade, e ainda não conseguiu entrar no programa Minha Casa Minha Vida, que é o seu sonho: "Quando o Lula foi preso, meu marido perguntou, e agora, em  quem vamos votar. Eu respondi, simplesmente, em quem o Lula apoiar."

Manuela, Boulos ou Ciro, quem tiver o apoio de Lula, será o candidato. Simples assim. Mas a história vai cobrar a posição de todos os que não  percebem que a prisão de Lula é um atentado à democracia. 

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 *  O Globo destaca o oposto, como se esta fosse uma questão de votar e a maioria decide. Não. 40% acreditando na injustiça do judiciário contra um cidadão é uma catástrofe, é o descrédito da Lava Jato e da onda moralizante que assola o País.

** Prisão ilegal por diversos motivos, mas principalmente pela fragilidade da setença de Sérgio Moro: 1) Não houve propriedade; 2) Não houve prova de usufruto e posse; 3) Não houve identificação de ato de ofício. Para uma longa discussão com 122 juristas, acesse o livro "Comentários a uma setença enunciada" AQUI.

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