domingo, 25 de setembro de 2016

O debate sobre o novo ensino médio: uns erram lá, outros erram cá.



Erram os críticos à proposta de reforma do ensino médio...

Sim, é verdade, a MP fala em contratar professores com “notório saber”. Mas não, não é verdade que isto se aplica a professores das disciplinas tradicionais. O “notório saber” se aplica ao ensino profissionalizante. O Art. 61 inciso IV se refere ao Art. 36. inciso V. Assim, é uma opção positiva que a formação de profissionais práticos possa ser incorporada na escola pela contratação de especialistas com "notório saber", atestados por outras formas de aprendizado. Como professores de capoeira, marceneiros, artistas...

Não, não é verdade. A mudança proposta não é um despropósito do governo atual. Ela está me discussão desde 2013.

Não, não é verdade que a reforma está abolindo disciplinas. Artes e Educação Física serão, seguramente, opções para o tempo ampliado na escola. As bases curriculares ainda estão em discussão.

Mas erra também o MEC...

Sim, é verdade, as taxas de evasão são desastrosas e alarmantes, mas não sabemos as suas causas. Sabemos apenas que grande parte da evasão tem sua origem fora dos muros das escolas, é causada pelas condições sócio-econômicas, pela desagregação familiar e pela violência social. Portanto, ao mudar a escola sem um horizonte de políticas sociais que ataquem as causas da evasão, corremos o risco de não mudar nada.

Sim, é verdade. Algo precisa mudar no ensino médio, mas exatamente o quê?.

Sim, é verdade que a reforma está em discussão há anos. Mas não, não é verdade que tenha se chegado a algum consenso. As mais de um milhão de propostas não foram processadas e portanto a consulta pública realizada foi apenas para justificar as opções realizadas na medida provisória.

Sim, a necessidade de aumento de tempo na escola e ações de fomento ao ensino em tempo integral são um consenso e a sua implantação é um objetivo a ser alcançado. Mas existem enormes dúvidas. Quanto isto custa e onde está o dinheiro? R$ 1,5 bi é quase nada diante da necessidade de investimento em contratação de mais 115.000 professores, construção de 15.000 novas salas de aula, ampliação da infraestrutura, oferta de almoço e merenda escolar, formação continuada de professores, etc...

Não, não é verdade que pensar em apenas 500.000 estudantes vai resolver o problema de 10 milhões de estudantes do ensino médio. Os valores orçamentários e as iniciativas devem ser multiplicadas por 20.

Sim, é verdade. A flexibilização é importante para que o currículo atenda à diversidade de formações que almejamos. Mas o grande perigo é que a flexibilização acabe em um compromisso de mediocridade e a escola ofereça as disciplinas possíveis dentro do quadro de professores disponíveis e não o conjunto de disciplinas necessárias à formação integral do estudante.

Sim, é verdade, precisamos de ampliar o tempo na escola. Mas para isto serão necessários professores. Que ações serão tomadas para a valorização do magistério? Quando 40% dos professores se aposentarem em 6 anos, quem estará em sala de aula para educar nossos filhos?

Erramos todos...

Sim, o ensino médio no Brasil é uma lástima.
Mas quanto deste desastre é causado pela nossa cultura, que desde a época dos escravos prefere comprar pronto do que aprender a fazer,  que valoriza o "fácil, extremamente fácil", que confunde indisciplina com criatividade...

A educação é a grande tarefa. Mas não teremos avanços se não aprofundarmos o nível do debate.

Um comentário:

Prof. Paulo Sérgio disse...

Olá professor Ulisses. Muito bom o seu texto. Em poucas palavras foi direto ao assunto expondo toda problemática e todas as dúvidas que temos sobre esta MP.