quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Stálin está vivo. Ontem eu o vi em Lavras...


“Leve em conta uma coisa: ao camarada Stálin PODE-SE dizer tudo, ao camarada Stálin É PRECISO dizer tudo, do camarada Stálin NADA pode-se esconder, do camarada Stálin NÃO Ë POSSÏVEL esconder nada!”

A fala de Stálin no final do romance de Anatoli Ribakov (Os filhos da rua Arbat, Ed. Best Seller, 1987) despertou em mim longínquas recordações. Foi meu livro de leitura nestas curtas férias de duas semanas! Um romance (ficção), carregado de memórias autobiográficas. Assim como o personagem Sasha, o autor Anatoli foi mandado ao degredo na Sibéria no início da era Stálin, apesar de acreditar no partido e no estado soviético. Ele conta como, apesar das intenções honestas de Sasha e outros bolcheviques mais antigos como Kirov, o stalinismo destruiu todas as suas esperanças de uma sociedade solidária na Rússia comunista.

O romance também é notável por seu retrato
psicológico de Joseph Stalin como uma figura intrigante e paranóica.

Há pelo menos quinze anos não mais me pego refletindo sobre a era stalinista na Rússia. Como se a história de Stálin tivesse perdido toda a atualidade com a perestroyka e a glassnost dos anos oitenta! Pergunto à minha filha se ela já ouviu estes termos e ela meneia a cabeça. Para os jovens, a era Stálin, a Cortina de Ferro, o Muro de Berlin são coisas que pertencem definitivamente ao passado!

Lembro-me bem da última vez que discuti com um stalinista. Militante do MR8, louvava o camarada Stálin pela sua enorme sabedoria em ter desmascarado o levante contra-revolucionário dos trotskistas e conduzido a Rússia com a clarividência da ciência marxista (sic). Liberdade individual? Conceito pequeno burguês, típico do idealismo reacionário, que precisa ser extirpado com as armas do realismo histórico e do materialismo dialético! Neste sentido, o estalinista que conheci no início da década de oitenta, defendia com ardor o estado de terror criado por Stálin na Rússia a partir dos anos 30. O militante do MR8 não o reconhecia como um ciclo de terror, em que a delação, a palavra distorcida e a crítica mais ingênua aos erros de Stálin eram convertidos pela polícia política – NKVD posteriormente NKGB, em um grave delito contra o Estado Soviético e contra a Revolução de 8 de outubro! Para meu interlocutor, o terror stalinista era uma invenção, obra da imprensa burguesa imperialista.

A era Stálin pertence à história. Assim como pertence à história o famoso Testamento de Lênin que em 4 de Janeiro 1922 reconhece que “Stalin é demasiado bruto” e propõe substituir o então Secretario-Geral do PC russo por um companheiro "mais tolerante, mais leal, mais educado e mais atento aos camaradas". Não foi ouvido. A era Stálin expurgou 70% da liderança soviética na década de 30, tendo assassinado mais de 180 líderes do Politbirô do Partido Comunista da Rússia. A era negra do Stalinismo inicia-se com o assassinato de Kírov, em Leningrado, em 1. de dezembro de 1934.

Khrushchov, que sucedeu Stálin, inicia um longo caminho para desvencilhar a Rússia dos horrores do stalinismo, que retorna fortalecido na longa era Brejnev e somente com a perestroyka e a glassnost (transparente como vidro...) de Gorbachov na década de 80 é definitivamente banido da URSS, sob o preço do total colapso do projeto de um estado comunista idealizado pela revolução liderada por Lênin em 1917.
O que resta hoje, às vésperas de 100 da revolução? Restou a máfia russa no poder com Putin!

O Stalinismo morreu. Viva o Stalinismo!

O que restou do stalinismo foi o método: governar e exercer poder pelo terror. Este método continua mais vivo do que nunca em todos os recantos do mundo, incluindo o Brasil. O stalinista do MR8 que conheci na década de 80, há muito esqueceu o seu ardor revolucionário. Mas, os métodos stalinistas, estes ele ainda utiliza, em proveito próprio, até hoje. Rico, ainda fala do socialismo entre os goles de Água Perrier nas tardes de sábado. Os métodos stalinistas são vívidos no Brasil de hoje. A nível macro, na direção do Partido dos Trabalhadores por exemplo, a nível micro, nas organizações da sociedade civil mais diversas, incluindo a Universidade Pública. Assim, não haveria espaço para Marina Silva num partido que defende José Dirceu mesmo após sua condenação. De empresários da educação, a reitores, chefes de departamento, ministros, tenho encontrado em minha vida uma plêiade ávida pelo poder, por menos significante que ele seja! Mas, como aconteceu na União Soviética, o governo pelo terror esmaga as forças criativas, anula os sinceros que querem contribuir positivamente para o crescimento das instituições e gera uma horda de subalternos, que aprendem a mentir e denunciar, para orbitarem o poder.

O fim é a derrocada de valores, o que não constrói os ideais que desejamos. Mas, talvez, eu esteja errado. Talvez Stálin é que esteja correto. É esta a natureza do ser humano. Eles precisam de um “líder” (sic).

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