quinta-feira, 24 de julho de 2014

A falta que me fez o pastor Rubem Alves



Nesta semana fatídica, ficamos sem João Ubaldo Ribeiro, sem Rubem Alves e sem Ariano Suassuna. Três imensas saudades. Estive no culto à noite de domingo na Igreja em que Rubem Alves foi pastor por cinco anos e senti um vazio imenso! Me dei conta de que sempre fui bravo com Rubem Alves e finalmente descobri a razão.

Rubem Alves sempre me fez falta como pastor.

Ao ser caçado pela própria Igreja Presbiteriana na época da Ditadura Militar e abandonar o pastorado, Rubem Alves deixou orfãos todos nós que acreditávamos nas suas perguntas, mas não conseguimos acreditar em suas respostas. Assim como Rubem Alves, a minha geração na Aliança Bíblica Universitária, buscamos uma resposta evangélica para a participação na construção de uma sociedade mais justa. Mas ao contrário de Rubem Alves e apesar dos erros da Igreja, sempre acreditamos em uma solução a partir do Evangelho. As palavras doces de Rubem Alves sempre me fizeram bem ao coração, mas sempre me deixaram triste a alma.

Por isto, neste réquiem a Rubem Alves, me volto ao que nos uniu: o amor aos Ipês, a árvore de Lavras, a árvore da esperança, que floresce de forma esplendorosa quando a seca é mais rude, quando a esperança é desesperada.

 Neste ponto, compartilho a definição e os sentimentos do pastor que nunca tive:

"Rubem Alves é um homem que gosta de ipês amarelos..."



"O que tenho sentido? Beleza. Nostalgia. Tristeza. Cansaço. Urgência. A curteza do tempo. Esperança? Sonhei ser um pianista. Mas os deuses tinham outros planos para mim. Gosto de brincar com palavras.
Por isso sou escritor. Escritores e poetas são meus companheiros."




Obrigado, meu querido jardineiro!

4 comentários:

Anônimo disse...

Seu artigo parece ser uma exceção à regra geral, mas quem conheceu um pouco da escrita e da alma generosa de Rubem Alves sabe que ele não daria a menor pelota, seja pelo elogio fácil ou pela crítica evangélica (conservadora como este artigo e do Elben, ULTIMATO) sobre o que pensava e escrevia.

Se tivesse passado pela Igreja Luterana, Episcopal, Metodista e morrido por lá,seria coberto de loas.

Poderiam até discordar dele, mas a convivência entre opostos sempre foi marca registrada destas Igrejas. Nunca da IPB.

A tragédia é que ele foi parido e viveu parte de sua primeira vida na IPB num ambiente ultra conservador e até hostil acadêmica e teologicamente como em Lavras, MG.

Teologicamente chinfrim, a IPB não consegue sair de si mesma. Ela se 'renova' dentro da mesmice! Seus luminares ficaram no passado, criou-se um hiato depois da década de 60 e no presente a turma que lambe a sua própria teologia dá a orientação.

Estou amargo com a IPB? De modo algum! Meu salário não vem dela. Nem rezo pelas suas catilinárias.

O que percebo é que a maior parte (quase toda!) da referência negativa feita ao falecimento de Rubem Alves (seu artigo destoa) veio e vem da IPB e seguramente a maioria tentam amarrá-lo ao bordão de uma teologia não necessariamente errada ou tradicional, mas que não consegue ver além do seu próprio umbigo.

O pessoal e alguns luminares da IPB são incapazes de separar o homem Rubem de sua produção literária; do Rubem teológico que renunciou muita coisa do Rubem pai, avô e escritor. Insistem em meter o homem na camisa de força de uma teologia... Bem, sem comentários!

Anônimo disse...

(continua...)

Aqui em Natal tem um desses pastores de mente rala que não consegue entender como uma pessoa que fez enormes contribuições teológicas, (sua tese de doutorado no Union de Nova York) ainda fazem sentido, como Protestantism and Repression: A Brazilian case study, e era capaz, mas como, nas palavras desse mente rala, de "...renunciar à fé [cristã]..."?

Como eu não sou presidente de Presbitério nem membro, e não sou obrigado a defender denominações, entendo perfeitamente como uma mente superficial como desse pastor é capaz de sentir-se, inquieto, posto que ele não consegue entender nenhuma outra dimensão senão aquela da Confissão de Fé de Westminster, 'à moda da casa'.

Quem lê esta sua (de Rubem) tese impressiona-se de como, do ponto de vista da psicanálise, (foi a praia de Rubem também) muito da repressão que a minha geração sofreu (e não estou falando de política!), recebeu uma boa dose de interpretação libertadora.

Passava-se a entender por quê a fé chegara assim, e assim ficara.

Isto é, são (nem todos da IPB) incapazes de apreciar o homem. E quando o elogiam, como no artigo de Elben em ULTIMATO, é para chorar as pitangas e a perda de um 'entre nós', do que o elogio genuíno à figura de quem fez uma enorme contribuição à literatura e à fé cristã.

"Mas ele renunciou à fé Cristã!" SE renunciou, e daí? Foro íntimo, para início de conversa. Ele saiu, não pediu para entrar na IPB!

Segundo, não era mais membro de nenhuma instituição eclesiástica por toda vida. E nem poderia se defender, como se costuma fazer nos presbitérios. Seu mundo, seu universo era outro. Ele lá não deixou essa turma entrar!

Agora que morreu, pronto, bastou para 'luminares' da IPB através de um monte de gente sair à cata de pedras e paus para cobrar do falecido o que ele renunciara a muitos anos!

Não me recordo de ouvir falar que Rubem tenha saído por aí brigando com a IPB por questões teológicas!

Escreveu na FOLHA renunciando muito do que aprendera em Campinas e EUA, como pastor em Lavras e conferencista alhures? Sim. E daí?

Quem pensa diferente dele que fique no seu cantinho, a menos que ele vá na igreja carola de seus críticos para pregar contra! Mas ele não fez isso!

Teologia também gera 'dor de cotovelo', acabo de perceber!

O problema da IPB e da maioria de seus obreiros que o criticam é que têm o hábito de pegar um giz, fazer um círculo ao redor de si mesmos e cantarem como Dominguinhos:

"Olha, que isso aqui tá muito bom
Isso aqui tá bom demais
Olha, quem tá fora quer entrar
Mas quem tá dentro não sai"

Quem entra, entra para o círculo estreito e quem está dentro não sai porque não seria capaz de conviver com a expansão do que está 'lá fora'.

Rubem percebeu que chegara um certo momento na vida que não dava mais bola para a IPB, e muito daquilo que a fé sustentava nas tradições conhecidas e que chegaram até nós, já não tinha mais valor. Azar dele? Que seja!

E dava de ombros a essa turma que eu suspeito, nunca leu nada de Rubem Alves. Como poeta e como teólogo.

Ô povinho!

EDUARDO VELASCO
NATAL/RN

Ulisses Leitão disse...

Prezado Eduardo, não nos conhecemos e me parece que você está amargurado com o seu debate com o pastor em Natal, por isto tvz vc não tenha sido capaz de entender o que eu disse.

Acompanho o pensamento de Rubem Alves desde a adolescência na Aliança Bíblica Universitária. Li vários de seus livros desde o Protestantismo e Repressão que tenho em minha estante de livros. Tenho origens na Igreja Presbiteriana, mas não tenho nenhum vínculo como pastor ou presbítero. Frequento atualmente a Igreja onde ele foi pastor e expresso tão somente a saudade do que nunca tive. Talvez, com menos rancor, leia o que eu disse. Se não gostar, não leia. Mas julgar o sentimento que eu tenho não lhe é permitido. Tenho sim, "saudades do meu querido jardineiro". Um abraço cordial. Se vier a Lavras algum dia, me procure.

Anônimo disse...

"Seu artigo parece ser uma exceção à regra geral..." (elogio a você e seu artigo).

Logo,

1. O 'pessoal' não inclui você. Refiro-me a luminares, e separei o seu artigo do que foi publicado pelo Elben.

2. Assim, durante meu comentário separei o 'seu' artigo do 'dele'(carta do Elben a Rubem) e 'deles' (há um longa artigo em 'o tempora o mores que expressa muito da IPB) e ao final a expressão "Ô povinho!" era para o artigo em ULTIMATO, a IPB e não ao seu. Por isso deixei mais claro:

"O pessoal e alguns luminares da IPB são incapazes de separar o homem Rubem de sua produção literária.

Você me parecia ter separado, daí meu longo comentário.

Lamento a observação, ainda que venha com um 'tvz' de que eu escrevi porque pareceu-lhe que eu estivesse "... amargurado com o seu debate com o pastor em Natal" que nem debate foi, ouvi de um colega advogado, presbítero da igreja dela e que foi lá tirar satisfação dele.

Posso não ter entendido o que você escreveu, mas separei o seu escrito do que o "povinho" escreveu e da carta do Elben que achei inoportuna e ao estabelecer que seu artigo era exceção, pareceu-me fui fora elogioso.

Ops! Desculpe. Entreguei no blog errado!

Eduardo

PS. Conheci o Rubem, muito embora um pouco mais velho do que eu. E a Igreja de Lavras era à época dele, não sei hoje nem sei se do seu tempo, era um bastião do conservadorismo mofado. E o que o Presbitério de Lavras fez com Rubem, é impublicável. Agora com reforço, apreciei seu artigo.