sábado, 18 de outubro de 2014

Mistério das pesquisas eleitorais


A eleição de 2014 ficará na história como a mais espetacular eleição dos últimos anos, por diversos motivos. Nunca tantas reviravoltas do destino. Nunca tanta imprevisibilidade. Nunca antes na história deste País as pesquisas erraram tanto, como no primeiro turno de 2014.

Nas vésperas do primeiro turno, Datafolha e Ibope apresentavam Dilma com 44% e 46%, Aécio com 26% e 27% e Marina com 24%. O resultado de 41,6% para Dilma, 33,6% para Aécio e 21% para Marina é simplesmente a falência das pesquisas eleitorais brasileiras.

Coloquei um post no meu Face e logo apareceram aquela explicação de sempre: manipulação da rede Globo. Além de ridícula, esta explicação padrão dos militantes petistas é contra toda a lógica. As pesquisas erraram a favor de Marina e Dilma. Se as pesquisas tivessem errado a favor de Aécio, a explicação seria a mesma!!! Falta o mínimo de consistência neste argumento infantil.

Uma possível explicação para erros de até 8 pontos percentuais, muito acima da margem de erro de 2%, está relacionada a duas questões.

As pesquisas de opinião tendem a errar mais quando a volatilidade é alta. Nestes casos as pesquisas conseguem detectar a direção da mudança mas erram feio nos valores estimados. Não conseguem mensurar a dinâmica da evolução do eleitor. Esta explicação está implícita no bordão inútil "se a eleição fosse hoje". Afirmação ridícula e acientífica, pois não pode ser negada nem comprovada!

Entretanto, me parece que temos outra possível explicação: erro de amostragem.

As pesquisas mais confiáveis ouvem tipicamente de 2000 a 10.000 eleitores para identificar o voto de 130 milhões. Para isto, precisam sortear  eleitores nos diferentes estratos que compõem o universo investigado. Normalmente a amostra é estratificada por região geográfica, Unidade da Federação, porte dos municípios e sua natureza. Um perfil de faixa etária e de gênero é utilizado, e os dados são ponderados segundo a proporção de cada cidade na amostra para correta representação das regiões de acordo com o Censo 2010 e os dados de eleitorado publicados pela Justiça Eleitoral.

O que acontece se a ponderação está errada e não leva em consideração os diferentes estratos de opinião que compõem a sociedade? A pesquisa passa a ser um exercício inútil de jogo de números.

Mas o mistério continua no segundo turno. A uma semana da eleição, as pesquisas eleitorais para o segundo se estabilizaram, mas são divergentes.

Datafolha/Ibope falam de empate técnico, com vantagem numérica para Aécio dentro da margem de erro: 

46% para Aécio a 44% para Dilma (Datafolha/Ibope).

Entretanto, acaba de sair a pesquisa Sensus que detecta a estabilidade também, mas em níveis completamente diferentes:  

Sensus/Istoé:  49,7% Aécio x 38,4% Dilma (Sensus/Istoé).

Pesa sobre a Sensus/Istoé a suspeita pelos números, pela baixa confiabilidade e por ser ligado a Clésio Andrade, ex-vice-governador do Aécio.

As pesquisas que serão divulgadas na próxima semana já estão registradas no site do TSE. A seriedade das pesquisas pode ser avaliada pelo número de eleitores entrevistados. A Sensus/Istoé tem pesquisa de 1500 a 2000 entrevistados, número que seguramente não dá para atingir os níveis de confiabilidade que eles estão divulgando. A principal pesquisa do Datafolha, que será divulgada na  quarta-feira, entrevistará 9978 eleitores!

Manipulação de pesquisas com intuito eleitoreiro não é algo que ajude a construir a democracia no país. Esperemos que os institutos de pesquisa acertem desta vez.






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