quinta-feira, 20 de junho de 2013

Catástrofe no ensino básico... na Alemanha!


Por que nossas crianças não aprendem mais a escrever corretamente?
A reportagem de capa e a entrevista interna do número 25/2013 da revista alemã Der Spiegel trazem uma discussão alarmante: a catástrofe ortográfica na educação básica...  na Alemanha!

Catástrofe na educação básica? Nenhuma novidade! Entretanto, duas são as razões que chamaram a minha atenção para a publicação. Primeiramente, a Alemanha é o motor econômico da Europa. Fiquei curioso por saber mais sobre como o País economicamente mais robusto da Europa está discutindo a questão da Educação Básica.

A segunda razão foi que, ao folhear a edição, encontrei uma entrevista relacionada ao tema. O pedagogo Günter Jansen, 73 anos, critica, de forma contundente, os métodos de ensino introduzidos na Alemanha nos últimos 25 anos. Comentando o método de ensino denominado "Ler pelo Escrever" - aprender a ler através da escrita, ele é categórico: "É uma imbecilidade completa".

"Escreva como você fala, o resto você aprende sozinho". "O aluno aprende mais quanto menos sua aprendizagem é dirigida". Esses são alguns princípios básicos que levaram o educador-pesquisador suíço, Jürgen Reichen (falecido em 2009), a propor o que ficou conhecido na Alemanha como método "Ler pelo Escrever". O método, amplamente utilizado no ensino básico na Alemanha, propõe, fundamentalmente, que o processo de aprendizagem da leitura deva ser realizado a partir do incentivo à escrita desde o início. Assim, a criança aprende, inicialmente, como a língua falada é transcrita para a língua escrita, de forma autônoma, com o uso apenas da Anlauttabelle - Planilha de sons, na qual se estabelece a conexão entre letras e sons ou fonemas, por meio de desenhos de animais e coisas do universo infantil. A partir da planilha, o aluno deve criar a sua escrita, dividindo a palavra falada numa "c-a-d-ei-a" de sons ou fonemas.

O método propõe a autonomia da aprendizagem desde o início, demarca a separação entre a letra e o som, e busca evitar a correção e a imposição de qualquer natureza: leitura de textos em voz alta ou ditado - nem pensar!


O professor entrevistado é um crítico ferrenho do método e suas palavras são (como em geral quase tudo na língua alemã) de uma clareza cristalina.

Perguntado sobre o que ele achava do Método, Jansen responde:

"Creio que o método não tem nenhum valor. As hipóteses fundamentais desse método estão erradas. O professor Reichen parte do pressuposto de que as crianças seriam capazes de recriar o processo de transcrição escrita da língua. Para isto devem inicialmente escrever da forma que se fala. Um absurdo! Erros ortográficos constantemente repetidos, que não são corrigidos pelos professores durante um até três anos seguidos, são internalizados. A criança é pré-programada para o erro. Então, a partir do segundo ou terceiro ano, ensinar a grafia correta das palavras, desconstruindo os erros sedimentados em um processo de aprendizagem caótica da escrita, é extremamente difícil. Um neurocientista sabe: desaprender rotinas estabelecidas é difícil ou quase impossível."

Sobre o uso da Anlauttabelle, Jansen é categórico: "Não há a menor possibilidade de dar certo". Ele argumenta que não há uma relação biunívoca entre sons e letras. Segundo o entrevistado, em alemão existem mais de 4000 sons que precisam ser transpostos para a linguagem escrita, o que é impossível de realizar-se com o número restrito de letras do alfabeto.

"A Anlauttabelle só serve para o aluno que já sabe escrever", afirma Jansen.
Jansen defende a necessidade de uma intervenção pedagógica mais dirigida, desde a escolha de letras e sons "mais estratégicos" para o processo de aprendizagem. Critica a visão do "Liberar a criatividade" sem a busca pelo padrão culto da língua. Em sua visão, este método tem causado maior prejuízo aos alunos de escolas de periferia, que vivem em um ambiente cultural de menor letramento, como nos bairros de imigrantes. 

O objetivo de ambos educadores é o mesmo: criar um ambiente de aprendizagem criativo e que o processo seja desafiador e alegre para a criança. Entretanto, traduzir esse objetivo em uma metodologia de trabalho didático continua sendo um grande e renovado desafio a todos os professores.

Aprender a ler é o grande desafio!

Referência: Der Spiegel - 25/2013

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