segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Em defesa do ENEM


Ministra da Cultura da Renânia do Norte tenta se explicar em 2008.

A aplicação do Abitur, o equivalente ao ENEM da Alemanha, no estado alemão da Renânia do Norte foi uma catástrofe no ano de 2008. Com manchetes do tipo: “Abitur-caos na Renânia do norte”, “Incompreensível, obscuro e insolúvel”, “Abitur-caos na Renânia coloca o partido CDU sob pressão”, a imprensa alemã refletiu a indignação pelos erros do “ENEM” por lá. Foi utilizado até o termo “Super-GAU”, onde GAU significa “mais grave acidente possível e imaginário”, termo que eu só havia ouvido em 1986 por ocasião do acidente de Chernobyl.

Situação traumática para os alunos, vexatória para o estado, nenhum sistema de avaliação é imune a erros. O Caos alemão de 2008 foi causado por uma série de questões de alta complexidade. Uma questão de estatística foi declarada como insolúvel por um professor da Universidade de Bonn, uma questão de geometria analítica, solicitava o cálculo da distância entre planos em um octahedro que possivelmente nenhum engenheiro no Brasil seria capaz de responder sem o uso de um MathCAD.

Erros por lá e por aqui. Mas os nossos são menos críticos.
Deixe-me explicar. Na Alemanha, o Abitur é responsabilidade de cada governo estadual e o professor aplica a prova na própria escola, escolhendo conjuntos de 3 entre 8 opções de tarefas. Cabe a ele, no final das contas, determinar o nivelamento do grau de dificuldade da questão para o contexto de sua escola. O nivelamento é, portanto, subjetivo.


Fluxograma do processo de calibração do NAEP americano


O ENEM, no Brasil, copia o sistema americano do National Assessment of Educational Progress. As questões passam por três fases de “calibração” através da análise estatística clássica e da Teoria de Resposta ao Item, antes de serem aplicadas. Este longo processo de calibração permite compreender como correta a defesa do Ministro Haddad de que “temos a tecnologia para garantir a equivalência de provas diferentes”.

Esta equivalência, tenho chamado atenção em minhas palestras e twittes, é fundamental para que o ENEM possa ser comparável em versões diferentes. Como selecionar para a Universidade alunos que fizeram o ENEM em anos distintos se não pudermos comparar suas notas? Assim, a argumentação da Juíza Karla de Almeida Miranda Maia é inconsistente desde o início.

Creio que o fundamental é aperfeiçoar o ENEM. Um dos passos urgentes, institucionalizar o processo de calibração das questões para garantir a gestão do Estado sobre este ponto crucial. Caso contrário, cada nova administração pode alterar a metodologia de forma arbitrária.


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