Fim de semestre. Notas finais. A Universidade consagrou o rito de passagem mais longo de todas as culturas: é preciso passar por este momento umas 50 a 60 vezes para receber o diploma universitário.
Talvez possam me acusar de positivista, mas eu acredito no processo avaliativo tradicional. O principal argumento é a minha experiência de mais de 20 anos como professor universitário: os alunos saem muito diferente do que entraram na Universidade, portanto, a Universidade faz uma diferença enorme.
Semestre passado uma aluna me chamou a atenção.
Menina simples, de origem humilde. Apesar dos esforços visíveis, foi reprovada na primeira vez que cursou minha disciplina de Eletromagnetismo. Confesso que cheguei a ficar assustado com a incoerência de certos argumentos nas provas.
Notei uma melhoria enorme na segunda vez que ela cursou a disciplina, fiquei surpreso e lhe perguntei a razão. A resposta não poderia ser mais esclarecedora: "Agora eu estou estudando, professor."
Mas não somente os alunos precisam ser avaliados. Em fase ainda experimental, a UFLA avalia disciplinas e professores semestralmente. Defendo que se implemente uma análise de dados que leve em consideração uma correlação entre a avaliação do professor e a distribuição de notas dos alunos.

Nos gráficos acima representamos os histogramas hipotéticos de avaliação dos alunos na disciplina (em azul) e da avaliação do professor pelos alunos (em vermelho). Quanto mais deslocado para a direita, mas altas são as notas, mais positiva é a avaliação.
No caso
a) temos uma avaliação negativa do professor e dos alunos. Este caso tem pouco significado. Pode ser que os alunos foram mal por que o professor é ruim. Mas pode ser apenas um ato de vingança. A avaliação apenas destes dois aspectos é inconclusiva neste caso.
O caso
b) aparentemente seria o ideal. Boa avaliação do professor e dos alunos. Todos satisfeitos e felizes. A Universidade cumprindo seu papel de ensinar, os alunos o de aprender. Mas, me preocupa a possibilidade desta situação retratar um Pacto de Mediocridade: o professor dando nota alta para não se comprometer, os alunos sabendo que não aprenderam, mas ficam satisfeitos pelo descanso das férias garantidas.
Mais esclarecedores são os casos
c) e
d).
Se a avaliação do professor pelos alunos é positiva, mesmo quando eles próprios não obtiveram boa nota, caso
c), temos duas consequências óbvias:
1) O professor deve ser um bom professor,
2) O currículo deve ser revisto para adequar melhor à condição da formação dos alunos. Possivelmente a ementa prevê pré-requisitos que os alunos não possuem.
A face mais óbvia deste drama tem sido o aleijão curricular de vários cursos de Engenharia e Computação que querem retirar Física e Matemática do currículo e, em geral, comprometem a formação dos alunos.
Finalmente, se a avaliação do professor é negativa, mesmo quando os alunos foram bem avaliados, caso
d), aí temos um caso, talvez insolúvel, de má formação do professor.
A expansão desenfreada da Universidade Particular no governo FHC e da Universidade Pública no governo Lula pode estar nos levando a esta situação, o que pode comprometer a qualidade do ensino superior no País pelos próximos 30 anos.