 |
Ipê amarelo - Parque de Itapeva |
Hoje a saudade de minha Mãe bateu ainda mais forte. É que mexer na terra sempre lembra a sua alegria ao aguar as plantas... Tirei o fim de semana para me dedicar à terra. Enxadão e picareta, mudas de árvores e frutos no velho Fiat Uno pé-duro, vou eu para o Sítio Águas Claras sonhar com o amanhã. Cada cova cravada no chão duro, seco e arenoso me lembrava o sorriso dela ao lavrar o chão.
A terra aqui não é aquela terra boa, densa e prenha, das montanhas dos contrafortes do Pico da Bandeira onde ela nasceu. Pelo prado ralo, de um capim fininho que não conheço, vê-se que aquela fertilidade que tanto dava alegria a ela, pode não ser a mesma por aqui.
Solo duro, terra maltratada. Não sei reconhecer os sinais da terra como ela fazia, mas as marcas nos galhos secos mostram que a terra foi queimada há menos de um ano. No entanto, os brotos, verdinhos e tenros, mostram aquilo que sempre lhe entusiasmou: a natureza segue seu curso, apesar de maltratada. Árvore, até quando está queimando, perfuma a terra. É esta generosidade de nosso planeta que nos encanta a todos, não é mesmo?!
Enfim trago as mudas do seu Geraldo, do viveiro do IEF. [IEF que está sendo desmontado por que, como tudo neste País, também aqui a corrupção destrói. O câncer da sociedade brasileira.] Ipês amarelos e rosas. É que, nesta terra árida do Sul de Minas, os Ipês me ensinaram uma coisa: A esperança é amarela! Verde não é esperança. É quando a chuva já iniciou a regar a terra e a vida se renova. É esperança concretizada. Os Ipês por aqui florescem, de um intenso brilho de todos os matizes, antes da chuva, quando a seca está mais causticante, quando nada indica que a natureza vai dar uma nova chance à vida. É como se a força da esperança trouxesse a flor e o fruto, contra toda a esperança! Me lembra Pedro Casaldáglia: Creio na justiça e na Esperança! Esta é a força que me impressiona hoje e sempre, e que nos move para frente.
Trago também Angico amarelo e Arueirinha como pioneiras, para adensar a mata. Jamelão, Calicarpa, Pitanga e Ameixa, para dar fruto, trazer os passarinhos, renovar a vida. E vi um enorme gavião, de 1,2 metros de envergadora, de penas brilhantes de um marrom escuro impressionante. Ele me encarou por longos cinco minutos e se foi, caçar, imponente e orgulhoso.
As covas, preencho com as minhas próprias mãos, como ela me ensinou. Quem sabe as minhas mãos também são quentes e boas para a terra, como foram as dela.
Semana que vem, venho com frutas para o pomar. Jaboticaba e Carambola, para lembrar do quintal de nossa casa, Mexerica Poncã e Laranja Serra D´Agua. Vou trazer também a Cana Caiana, para retirar garapa, ou simplesmente descascar os gomos, trincar as taliscas e sorver o caldo, sentado na varanda ao pôr do Sol.
Como disse a Miriam em sua coluna ontem, o tempo é muito breve. Sim, muito breve para todos os nossos sonhos e para a infinitude da vida!
 |
Jamelão
Calicarpa |