Erram os críticos à
proposta de reforma do ensino médio...
Sim, é verdade, a
MP fala em contratar professores com “notório saber”. Mas não,
não é verdade que isto se aplica a professores das disciplinas
tradicionais. O “notório saber” se aplica ao ensino
profissionalizante. O Art. 61 inciso IV se refere ao Art. 36. inciso
V. Assim, é uma opção positiva que a formação de profissionais práticos possa ser
incorporada na escola pela contratação de especialistas com "notório saber", atestados por outras formas de aprendizado. Como professores de capoeira, marceneiros, artistas...
Não, não é
verdade. A mudança proposta não é um despropósito do governo
atual. Ela está me discussão desde 2013.
Não, não é
verdade que a reforma está abolindo disciplinas. Artes e Educação
Física serão, seguramente, opções para o tempo ampliado na
escola. As bases curriculares ainda estão em discussão.
Mas erra também o
MEC...
Sim, é verdade, as
taxas de evasão são desastrosas e alarmantes, mas não sabemos as
suas causas. Sabemos apenas que grande parte da evasão tem sua
origem fora dos muros das escolas, é causada pelas condições
sócio-econômicas, pela desagregação familiar e pela violência
social. Portanto, ao mudar a escola sem um horizonte de políticas
sociais que ataquem as causas da evasão, corremos o risco de não
mudar nada.
Sim, é verdade.
Algo precisa mudar no ensino médio, mas exatamente o quê?.
Sim, é verdade que
a reforma está em discussão há anos. Mas não, não é verdade que
tenha se chegado a algum consenso. As mais de um milhão de propostas
não foram processadas e portanto a consulta pública realizada foi
apenas para justificar as opções realizadas na medida provisória.
Sim, a necessidade
de aumento de tempo na escola e ações de fomento ao ensino em tempo
integral são um consenso e a sua implantação é um objetivo a ser
alcançado. Mas existem enormes dúvidas. Quanto isto custa e onde
está o dinheiro? R$ 1,5 bi é quase nada diante da necessidade de
investimento em contratação de mais 115.000 professores, construção
de 15.000 novas salas de aula, ampliação da infraestrutura, oferta
de almoço e merenda escolar, formação continuada de professores,
etc...
Não, não é
verdade que pensar em apenas 500.000 estudantes vai resolver o
problema de 10 milhões de estudantes do ensino médio. Os valores orçamentários e as iniciativas devem ser multiplicadas por 20.
Sim, é verdade. A
flexibilização é importante para que o currículo atenda à
diversidade de formações que almejamos. Mas o grande perigo é que
a flexibilização acabe em um compromisso de mediocridade e a escola
ofereça as disciplinas possíveis dentro do quadro de professores
disponíveis e não o conjunto de disciplinas necessárias à
formação integral do estudante.
Sim, é verdade,
precisamos de ampliar o tempo na escola. Mas para isto serão
necessários professores. Que ações serão tomadas para a
valorização do magistério? Quando 40% dos professores se
aposentarem em 6 anos, quem estará em sala de aula para educar
nossos filhos?
Erramos todos...
Sim, o ensino médio no Brasil é uma lástima.
Mas quanto deste desastre é causado pela nossa cultura, que desde a época dos escravos prefere comprar pronto do que aprender a fazer, que valoriza o "fácil, extremamente fácil", que confunde indisciplina com criatividade...
A educação é a grande tarefa. Mas não teremos avanços se não aprofundarmos o nível do debate.
Um comentário:
Olá professor Ulisses. Muito bom o seu texto. Em poucas palavras foi direto ao assunto expondo toda problemática e todas as dúvidas que temos sobre esta MP.
Postar um comentário