“Leve em conta uma coisa: ao camarada Stálin PODE-SE dizer tudo, ao camarada Stálin É PRECISO dizer tudo, do camarada Stálin NADA pode-se esconder, do camarada Stálin NÃO Ë POSSÏVEL esconder nada!” |
A fala de Stálin no final do romance
de Anatoli Ribakov (Os filhos da rua Arbat, Ed. Best Seller, 1987)
despertou em mim longínquas recordações. Foi meu livro de leitura
nestas curtas férias de duas semanas! Um romance
(ficção), carregado de memórias autobiográficas. Assim como o
personagem Sasha, o autor Anatoli
foi mandado ao degredo na Sibéria no início da era Stálin, apesar
de acreditar no partido e no estado soviético.
Ele conta como, apesar das intenções
honestas de Sasha
e outros
bolcheviques mais antigos como Kirov, o stalinismo destruiu
todas as suas esperanças de uma sociedade
solidária na Rússia comunista.
O romance também é notável por seu retrato psicológico de Joseph Stalin como uma figura intrigante e paranóica.
O romance também é notável por seu retrato psicológico de Joseph Stalin como uma figura intrigante e paranóica.
Há pelo menos quinze anos não mais me
pego refletindo sobre a era stalinista na Rússia. Como se a história
de Stálin tivesse perdido toda a atualidade com a perestroyka e a
glassnost dos anos oitenta! Pergunto à minha filha se ela já ouviu
estes termos e ela meneia a cabeça. Para os jovens, a era Stálin, a
Cortina de Ferro, o Muro de Berlin são coisas que pertencem definitivamente ao
passado!
Lembro-me bem da última vez que
discuti com um stalinista. Militante do MR8, louvava o camarada
Stálin pela sua enorme sabedoria em ter desmascarado o levante
contra-revolucionário dos trotskistas e conduzido a Rússia com a
clarividência da ciência marxista (sic). Liberdade individual?
Conceito pequeno burguês, típico do idealismo reacionário, que
precisa ser extirpado com as armas do realismo histórico e do
materialismo dialético! Neste sentido, o estalinista que conheci no
início da década de oitenta, defendia com ardor o estado de terror
criado por Stálin na Rússia a partir dos anos 30. O militante do MR8 não o
reconhecia como um ciclo de terror, em que a delação, a palavra
distorcida e a crítica mais ingênua aos erros de Stálin eram
convertidos pela polícia política – NKVD posteriormente NKGB, em
um grave delito contra o Estado Soviético e contra a Revolução de
8 de outubro! Para meu interlocutor, o terror stalinista era uma
invenção, obra da imprensa burguesa imperialista.
A era Stálin pertence à história.
Assim como pertence à história o famoso Testamento de Lênin que em
4 de Janeiro 1922 reconhece que “Stalin é demasiado bruto” e
propõe substituir o então Secretario-Geral do PC russo por um
companheiro "mais tolerante, mais leal, mais educado e mais
atento aos camaradas". Não foi ouvido. A era Stálin expurgou
70% da liderança soviética na década de 30, tendo assassinado mais
de 180 líderes do Politbirô do Partido Comunista da Rússia. A era
negra do Stalinismo inicia-se com o assassinato de Kírov, em
Leningrado, em 1. de dezembro de 1934.
Khrushchov, que
sucedeu Stálin, inicia um longo caminho para desvencilhar a Rússia
dos horrores do stalinismo, que retorna fortalecido na longa era
Brejnev e somente com a perestroyka e a glassnost (transparente como vidro...) de Gorbachov na
década de 80 é definitivamente banido da URSS, sob o preço do
total colapso do projeto de um estado comunista idealizado pela
revolução liderada por Lênin em 1917.
O que resta hoje, às vésperas de 100 da revolução?
Restou a máfia russa no poder com Putin!
O
Stalinismo
morreu. Viva o Stalinismo!
O que
restou do stalinismo foi o método: governar e
exercer poder pelo terror.
Este método continua mais vivo do que nunca em
todos os recantos do mundo, incluindo
o Brasil. O
stalinista
do MR8 que conheci na
década de 80,
há muito esqueceu o seu
ardor revolucionário. Mas,
os métodos stalinistas, estes ele ainda
utiliza, em proveito próprio, até hoje. Rico, ainda fala do socialismo entre os goles de Água Perrier nas tardes de sábado.
Os métodos stalinistas são
vívidos no Brasil de hoje. A
nível macro,
na direção do Partido dos Trabalhadores por
exemplo, a
nível micro, nas organizações da sociedade civil mais
diversas, incluindo a Universidade Pública.
Assim, não haveria espaço
para Marina Silva num partido que defende José Dirceu mesmo após
sua condenação. De
empresários da educação, a reitores, chefes de departamento,
ministros, tenho encontrado em minha vida uma plêiade
ávida pelo poder, por menos
significante que ele seja!
Mas, como aconteceu na União
Soviética, o governo pelo
terror esmaga as forças
criativas, anula
os sinceros que querem
contribuir positivamente para o crescimento das instituições e gera
uma horda de subalternos, que aprendem a mentir e denunciar, para orbitarem o poder.
O
fim é a derrocada de
valores, o que não constrói os ideais que desejamos. Mas,
talvez, eu esteja errado. Talvez
Stálin é que esteja correto. É esta a natureza do ser humano. Eles
precisam de um “líder” (sic).
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